Surpresa da Serie A, Udinese sai em busca de voos mais altos

A contratação do técnico Andrea Sottil, que fez um ótimo trabalho com o limitado elenco do Ascoli na temporada passada da Serie B, foi uma grande jogada da Udinese. Os bons resultados conquistados pelos bianconeri no início da Serie A, principalmente a goleada em cima da Roma, mostraram que o time da cidade de Údine finalmente mudou sua postura.

Empreguei o advérbio “finalmente” no parágrafo anterior por que realmente demorou para a Udinese sair da zona de conforto e tentar algo a mais na elite ou até mesmo ser um pouco mais ambiciosa. Desde a temporada 2013/14, a equipe liderada pelo empresário Giampaolo Pozzo não consegue passar da 12ª colocação e correu sérios riscos de rebaixamento em algumas oportunidades.

Na edição passada do Campeonato Italiano, por exemplo, a saída de Luca Gotti e a promoção de Gabriele Cioffi foi o ponto de virada para a Udinese conseguir escapar das três últimas colocações. O novo treinador deu mais ânimo ao plantel bianconero e tirou o melhor do elenco, que foi capaz de sair da perigosa 16ª posição e chegar em uma confortável salvação em 12º.

A repentina saída de Cioffi, que foi para o Hellas Verona, e a postura “low profile” da Udinese no mercado de transferências, principalmente por ter apostado em vários jovens atletas, colocou em dúvida a capacidade da equipe. No entanto, a chegada do jovem Sottil e as ideias implantadas pelo ex-técnico do Ascoli, apesar de ter repetido o 3-5-2 de Cioffi e Gotti, fez com que o clube friulano se tornasse a grande surpresa do torneio.

Ao contrário de seus antecessores, Sottil sabe aproveitar as melhores armas do seu time e adicionou bastante agressividade, compacidade e capacidade de explorar as brechas dos rivais. O comandante, que jogou pela Udinese entre 1999 e 2003, vem conseguindo cumprir seus objetivos graças às excelentes exibições de Gerard Deulofeu, Roberto Pereyra, Destiny Udogie, Rodrigo BecãoBeto e muitos outros.

As construções das jogadas da Udinese começam normalmente por baixo com um dos zagueiros centrais carregando a bola e os outros dois abrindo pelos lados, assim como os laterais. Caso o rival opte em fazer uma marcação mais alta, os friulani procuram usar a bola longa. Na fase ofensiva, uma das principais armas é Pereyra, que pode cair pelas alas para cruzar ou fazer tabelas e até mesmo atuar como uma espécie de meia-atacante.

Além da fisicalidade e dos contra-ataques rápidos com seus velocistas, como Deulofeu, a equipe de Sottil possui uma fase de não posse bem estruturada e estudada, com uma pressão não tanto frenética, mas abrangendo toda a área do campo, principalmente na parte central. Isso tudo tem como objetivo fazer o rival atuar mais pelos flancos e obrigá-lo a tentar o passe longo. Nessas situações, o esquema da Udinese muda para o 5-4-1, pois os laterais se unem ao trio defensivo.

Não faço retóricas e nem procuro me esconder, quero um time agressivo que tenha voz, mesmo contra times mais nobres. Esta equipe é competitiva e vem provando isso, então os jogos devem ser disputados não pelos nomes nos currículos, mas em campo. A Udinese foi ao gramado, venceu a Roma com quatro gols e ganhou com méritos“, explicou Sottil em uma coletiva de imprensa.

Além de vencer Roma, Fiorentina e Monza, a atual quarta colocada da Serie A empatou sem gols com a Salernitana, mas precisou jogar com um atleta a menos durante todo o segundo tempo em função da expulsão de Nehuén Pérez, e perdeu para o Milan na estreia da liga italiana pelo placar de quatro gols a dois.

O estilo de jogo da Udinese agradou muita gente, como o técnico da seleção inglesa, Gareth Southgate, que assistiu ao duelo contra a Roma e opinou: “Fiquei muito impressionado com a Udinese, que pressiona alto e não deixou saídas para o jogo da Roma, eles são realmente uma equipe forte“.

O ex-treinador Fabio Capello, multicampeão por Milan e Real Madrid, afirmou que a Udinese joga um “futebol diferente do que estamos acostumados a ver”. Além disso, o italiano destacou a “determinação, o espírito competitivo e a velocidade” do plantel liderado por Sottil.

É muito provável que a Udinese não consiga repetir os mesmos passos daquele time do início da década de 2010, quando chegou a ficar em terceiro lugar na Serie A, mas é um esquadrão que poderá dar mais tranquilidade ao torcedor. Após quase 10 temporadas no anonimato, os bianconeri possuem capacidade de voltarem a fechar o campeonato no lado esquerdo da classificação.