Tudo de novo. Pelo Flamengo.

Quando a Conmebol anunciou que a Taça Libertadores da América mudaria seu formato, passando a ter final única, confesso que torci o nariz. Talvez por uma questão de tradição dos jogos de ida e volta, talvez por achar que era uma tentativa de copiar a Europa (e é!). Fato é que a novidade me deixou incomodado, principalmente por entender que a América do Sul não tem as características do continente europeu e, portanto, vivenciaria diversas dificuldades na questão do deslocamento/custos dos torcedores. Óbvia constatação.

Há, no entanto, o outro lado da moeda, como tudo na vida. A final única é especial. Um evento, como o próprio nome diz, único. Aquele clima de Copa do Mundo, de finalíssima, ansiedade a mil, muita torcida de ambos os lados, festa e nervos à flor da pele. A final em jogo único, em um país previamente escolhido (às vezes muda), demanda muita organização e malabarismo para que você seja um dos privilegiados no estádio. Sei bem do que estou falando, acreditem.

Lima foi uma saga, sem exageros. Poderia virar livro, filme ou uma série de vários capítulos. Desafio qualquer um que foi ao Peru em 2019 a dividir uma história tranquila de sua viagem. Foram muitas madrugadas em claro na luta pela troca da passagem para Lima. Grupos de apoio, chats e intermináveis idas aos guichês das companhias aéreas. A primeira final única da Libertadores foi marcante. Histórica. Inigualável. Já tentei imaginar cenários comparáveis aos de Lima para reviver tudo aqui, mas simplesmente falhei. Ficou marcado na história, para sempre. Em nossa memória e em nossos corações. Eu estava lá, ao lado de muitos amigos queridos. E faria tudo de novo. Pelo Flamengo. Só não imaginava que seria tão cedo.

Montevidéu é um capítulo duro da história rubro-negra, mas também importante de ser relatado. Com menos dificuldades, mas não menos onerosa, a viagem ao Uruguai para a final de 2021 foi mais uma saga rubro-negra. Assim como em Lima, a torcida invadiu Montevidéu, foi imensa maioria no estádio, reuniu vários amigos, de diferentes círculos, mas deixou uma grande cicatriz na pele vermelha e preta. Marcas de guerra que jamais serão esquecidas, mas que servem de aprendizado, que criam cascas. Eu estava lá, ao lado de muitos amigos queridos. E faria tudo de novo. Pelo Flamengo. Só não imaginava que seria no ano seguinte.

Muita gente não acreditava num ano de 2022 vitorioso do Flamengo. Era compreensível o ceticismo de parte da torcida, principalmente pela frustração com o técnico português Paulo Sousa, talvez um dos trabalhos mais decepcionantes no Clube. Mas sempre me pareceu absurdo cravar que o ano tinha acabado para o Rubro-Negro. A mudança de comando se fazia necessária (e foi), mas eu olhava para o elenco e pensava: impossível esse time não dar liga de novo. É fato que ainda não bateu campeão e no futebol tudo pode acontecer, mas hoje, dia 01/09/2022, em qualquer mesa redonda, qualquer bate papo virtual, qualquer mesa de bar, qualquer resenha de pelada, é impossível não enxergar o Flamengo como favorito a ser campeão de algo no ano. Há quem diga, inclusive, que o Clube pode até fazer a limpa nas competições. Mas me deixe voltar a Guayaquil, porque o texto é sobre a loucura que a gente faz para seguir esse amor chamado Flamengo.

Ainda na fase de grupos, quando a classificação já estava garantida para a fase de mata-mata, decidi reservar hotel em Guayaquil. E quando o Rubro-Negro venceu o Corinthians por 2 a 0 na partida de ida das 4ªs de final, olhei para minha esposa e disse: vamos? Apaixonada como eu, a patroa apenas acenou positivamente e foi a deixa para pesquisarmos passagens. Menos de uma hora depois, bilhetes emitidos. O Flamengo ainda não está garantido na final da Libertadores 2022, mas somente uma hecatombe fará o Rubro-Negro não estar em Guayaquil no dia 29 de outubro desse ano.

Lembro com detalhes de nossa saída do estádio Centenário, em 2021. Minha esposa, aos prantos, me fez prometer que voltaríamos à final da Libertadores até que ela fosse campeã comigo, no estádio (não pôde ir em 2019 porque nosso 2º filho tinha apenas dois meses). Promessa é dívida. E estaremos lá, ao lado de muitos amigos queridos. E faremos tudo de novo. Pelo Flamengo. Até que eu cumpra minha promessa à mulher que amo.