Sassuolo: Domenico Berardi é um dos últimos românticos do futebol italiano

O atacante Domenico Berardi é um daqueles raríssimos casos nos dias de hoje de jogadores que defenderam apenas um clube ao longo da carreira. Desde 2012 na equipe profissional do Sassuolo, o atleta estendeu seu vínculo com o clube da Emilia-Romagna até 2027 e está pronto para continuar adicionando novos capítulos em seu belo romance ao lado dos neroverdi.

Campeão da Eurocopa e grande símbolo de um Sassuolo que está em sua 10ª temporada consecutiva na Serie A, Berardi contabiliza 328 jogos, 84 assistências e balançou as redes 122 vezes, sendo o maior artilheiro da história do time, superando com muita folga Cristiano Luconi e Gaetano Masucci, que marcaram 44 gols. Em quantidade de partidas disputadas, o atacante ainda precisará de muito para ultrapassar o ex-meio-campista Francesco Magnanelli, outro ídolo do clube e que entrou em campo em 520 ocasiões.

Independentemente se vai ou não se tornar o jogador com mais jogos na história da equipe, Berardi tem 28 anos de idade e possui mais cinco anos para mostrar seu bom futebol no Sassuolo. Com a aposentadoria de Magnanelli, o atacante se transformou no único remanescente do inédito título da Serie B na temporada 2012/13. Já entre os atletas da inesquecível campanha de 2015/16, quando os neroverdi chegaram em um histórico sexto lugar, apenas o centroavante, o goleiro Andrea Consigli e o francês Grégoire Defrel permanecem no plantel.

O tempo passou depressa e não demorou para Berardi ver temporada após temporada diversos bons companheiros de equipe deixarem o Sassuolo para tentarem atingir voos maiores, como Simone Zaza, Sime Vrsaljko, Nicola Sansone, Lorenzo Pellegrini, Matteo Politano, Stefano Sensi e Manuel Locatelli. Os últimos grandes aliados do novo camisa número 10 que deixaram o barco foram Giacomo Raspadori e Gianluca Scamacca.

Com os milhões arrecadados com estes dois últimos jogadores mencionados, o Sassuolo foi obrigado a reconstruir seu sistema ofensivo e trouxe os promissores Kristian Thorstvedt (Genk), Agustín Martínez (Peñarol) e Andrea Pinamonti (Inter de Milão), mas Berardi ainda parece agir como um lobo solitário em uma equipe que indica estar entrando em um declínio perigoso.

Na atual temporada, os neroverdi foram surpreendidos pelo Modena e caíram precocemente nos 32 avos de final da Copa da Itália. Na Serie A, a equipe comandada por Alessio Dionisi foi goleada pela Juventus e venceu o Lecce pelo placar mínimo, mas o resultado positivo veio graças a um momento mágico de Berardi, que anotou um golaço de fora da área. Dos três tentos marcados pelos emilianos, dois passaram pelos pés do campeão europeu.

A permanência de Berardi deve ser celebrada pelos torcedores do Sassuolo, pois o atacante já foi incansavelmente especulado em diversos clubes da Itália e do exterior, mas nenhuma das negociações foi para frente. Sendo assim, melhor estar com o centroavante do quem sem ele, pois sua ausência deixaria o atual plantel da equipe ainda mais empobrecido, principalmente no setor ofensivo.

Nas nove temporadas completas que disputou pelo Sassuolo, Berardi não atingiu a marca dos dois dígitos de gols somente em duas ocasiões. Na edição anterior do Campeonato Italiano, o centroavante balançou as redes 15 vezes e ajudou a sua equipe a chegar nos 50 pontos e garantir confortavelmente uma posição no meio da tabela. No entanto, o clube passou bem longe de brigar por uma vaga nas competições continentais.

Na Itália, os jogadores que possuem uma relação de amor com um clube, como Paolo Maldini, Alessandro Del Piero, Francesco Totti e Javier Zanetti, são chamados de “bandeiras”. A imprensa do Belpaese e os torcedores do próprio Sassuolo já consideram Berardi como a “última bandeira” do futebol italiano.

Em um mundo do futebol onde os valores do passado são cada vez mais escassos, Berardi demonstrou uma conduta fora da curva. Quando o novo acordo expirar, “Mimmo” terá 33 anos e as chances de buscar um grande salto na carreira serão significativamente reduzidas. Com isso, o centroavante percebeu que é melhor crescer em sua própria casa do que em uma outra diferente.

Em resumo, não é exagero dizer que Berardi é um dos últimos românticos do futebol da Itália. O atleta de 28 anos pode ser considerado um bom exemplo de jogador que o carinho pelas cores do clube é mais valorizado do que as cifras.

Foi uma boa notícia e totalmente merecida. Tudo o que Berardi conquistou, ele fez por suas qualidades, sem esquecer que é um jogador decisivo para nós. Não há muitos por aí como ele, mas tive a sorte de treinar Magnanelli, que foi mais do que uma bandeira. Talvez Berardi seja o último e devemos nos fazer alguns questionamentos, não a nós Sassuolo, mas para todos: Não se dá mais valor, esses jogadores são importantes e tem cada vez menos. É uma pena, mas sorte para os treinadores que os possuem“, declarou Dionisi em uma entrevista coletiva.