Acordei hoje querendo escrever um texto sobre mais uma classificação do Flamengo às semifinais da Libertadores, a 3ª nos últimos 4 anos. Motivos não faltam para exaltar o momento do Rubro-Negro depois de anos e anos de reestruturação administrativa e financeira. Mas vou tomar um pouco do tempo dos amigos para fazer uma reflexão.
Por que o destaque de grande parte da imprensa recai sobre o derrotado? Quais seriam os motivos da tentativa de minimizar os feitos do Flamengo, apontar possíveis problemas que sequer existem hoje e valorizar uma eliminação corintiana com duas derrotas e zero gols marcados?
Vivo me perguntando o motivo de tanto ódio ao Flamengo. A pergunta, de certa forma retórica, me transformou num jornalista/torcedor que simplesmente sucumbiu. Ao clubismo, ao bairrismo e à necessidade quase que diária de criar narrativas de desmerecimento ao Flamengo. Quem inventou o termo Flapress deve viver no mundo da lua. Parece estar desconectado do noticiário esportivo, das análises da imprensa, da torcida escancarada contra o Rubro-Negro, seja ela exibida na TV ou nas redes sociais.
Fair Play Financeiro, VARmengo, terceirizados, tudo se fala sobre o Flamengo. Quando vivia adormecido e anestesiado devido a péssimas gestões, fadado ao fracasso e flertando com rebaixamentos, o mundo parecia menos preocupado com o Clube da Gávea. Quem torcia contra, achava graça. Quando clubes rivais empilhavam títulos amparados por grandes empresas e/ou mecenas, o trabalho era valorizado. “Exemplo de gestão”, bradavam os detentores da verdade absoluta.
Bastou o Flamengo mostrar sua força que, como num passe de mágica, o mundo caiu para a turma que não suporta ver o Maior Clube do Brasil se destacar. Quem vê o Flamengo poderoso de hoje em dia, tem a obrigação de buscar se informar sobre a forma como um Clube outrora mergulhado em dívidas conseguiu renascer. Não, não foi com SAF, tampouco com injeção financeira de algum abnegado torcedor. Benesses políticas? Falácia! Foi com muito suor, com muita luta, foi roendo o osso, vendo os rivais levantarem taças enquanto o Rubro-Negro juntava os cacos em busca de sua própria reconstrução.
Me entristece perceber que o lugar de fala de muitos jornalistas se transformou em palco para torcedores com microfone. Raros são os casos de profissionais que realmente se importam com o jogo, que enxergam o que, de fato, acontece no mundo da bola. O maldito engajamento destruiu a capacidade do bom debate. Estudar o esporte virou démodé. A onda do momento é falar sobre tudo, mesmo que você não domine o assunto, mesmo que tenha total consciência de que está repercutindo bobagens. Tudo em troca de likes e visibilidade.
📸 @gilvandesouza9 / CRF pic.twitter.com/cG465mkbto
— Flamengo (@Flamengo) August 10, 2022
Peço que me perdoem pelo desabafo em um dia que deveria ser de festa para o torcedor do Flamengo. Com um pouco mais de inteligência emocional, deveria ser, inclusive, momento de reflexão para os rivais. Ninguém sobrevive sozinho, no esporte e na vida. O Flamengo saudável e bem administrado deveria servir de exemplo. Deveria ser um modelo a ser seguido. Infelizmente, o que se vê passa longe disso. Quem fecha os olhos para o óbvio ajuda a diminuir o próprio time que torce. É o bairrismo burro, um verdadeiro gol contra. E o prêmio de consolação se restringe a quem canta mais.
Quanto ao Flamengo, que o Clube siga organizado e focado no profissionalismo e na lisura, porque somente assim estará sempre à frente dos demais e brigando por todas as competições. Ganhar ou perder é inerente ao esporte, mas a hegemonia rubro-negra precisar estar atrelada ao que é certo. Um Flamengo forte e vencedor deveria servir de exemplo, mas causa inveja e limita o debate sobre o futebol. Fair play financeiro? Seria excelente! Para o Flamengo.
Foto: @gilvandesouza9 / CRF