Futebol italiano reage à guerra na Ucrânia

Após meses de tensão diplomática, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, lançou um ataque contra a Ucrânia na quinta-feira (24) e não demorou para que explosões em várias cidades fora das áreas separatistas do Donbass fossem registradas. O conflito entre as duas nações provocou nos últimos dias reações de diversos clubes, dirigentes, técnicos e jogadores do futebol italiano.

Um dos relatos mais impressionantes foi do técnico Roberto De Zerbi, do Shakhtar Donetsk, que admitiu em uma entrevista à emissora Sportitalia que acordou em função das bombas na capital Kiev. No entanto, o ex-técnico do Sassuolo foi na contramão de muitos e optou em “não dar as costas” ao seu clube e ao futebol.

É um péssimo dia, porque as explosões ao longo da noite nos acordaram e todo o espaço aéreo foi fechado. A embaixada italiana pediu para deixarmos a Ucrânia, mas eu não posso dar as costas ao Shakhtar, ao futebol e sair assim desta forma. Nós tínhamos um jogo marcado para o sábado e não eu não poderia fugir. Não é fácil explicar tudo isso para os nossos entes queridos“, disse De Zerbi, que comanda o clube de Donetsk desde maio de 2021.

Além de De Zerbi, outros sete membros da sua comissão técnica estão bloqueados em Kiev, são eles: Davide Possanzini, Vincenzo Teresa, Marcattilio Marcattilli, Agostino Tibaudi, Giorgio Bianchi, Michele Cavalli e Paulo Bianco. Vale destacar que o grupo está em um hotel com a maioria dos jogadores do Shakhtar.

Em virtude das fortes ondas de ataques das forças armadas russas, a disputa da principal divisão do Campeonato Ucraniano foi suspensa temporariamente. Os clubes, que desfrutavam de uma pequena pausa no calendário, iriam voltar aos gramados a partir desta sexta-feira (25), com o jogo entre Mynai e Zorya Luhansk.

O Sassuolo, por sua vez, dedicou uma mensagem ao ex-técnico do clube e foi uma das equipes que se manifestaram sobre a situação.

A situação em Kiev é dramática, pois uma guerra terrível está abalando a Ucrânia. Estamos próximos das pessoas afetadas por esta tragédia. Nossos pensamentos estão com o técnico De Zerbi, sua equipe e Marlon, que sempre fez parte da família neroverdi. Cuidem-se, estamos esperando por vocês na Itália o mais rápido possível“, escreveu o clube italiano nas redes sociais.

O Cagliari foi uma das primeiras equipes da Serie A a se posicionar sobre o conflito, tendo publicado a bandeira da paz e usado a hashtag #WeStandForPeace. De maneiras diferentes, mas com os mesmos propósitos, as equipes do Milan, da Sampdoria e da Udinese também pediram por paz.

Ao lado do Barcelona, o Napoli mostrou uma faixa com a frase “PARE A GUERRA” antes do pontapé inicial da partida contra o rival catalão pela Liga Europa, que terminou 4 a 2 para o Barça. O árbitro do jogo, inclusive, foi o russo Sergey Karasev e os seus assistentes foram os compatriotas Igor Demeshko e Aleksey Lunev.

Em outro confronto válido pela Europa League, o ucraniano Ruslan Malinovskyi, da Atalanta, celebrou um dos gols marcados na vitória diante do Olympiacos mostrando uma camisa com a mensagem: “Sem guerra na Ucrânia”. Em suas redes sociais, o jogador publicou um link para as pessoas fazerem doações ao seu país natal.

A Federação Italiana de Futebol (Figc), por sua vez, decidiu que as partidas dos campeonatos disputados pelo país começarão com cinco minutos de atraso em protesto contra a guerra na Ucrânia. No San Siro, palco do jogo entre Milan e Udinese, uma mensagem de paz foi exibida no telão do estádio antes da bola rolar.

Acordar esta manhã foi chocante e traumático. Eu me vi impotente assistindo a imagens que eu não conseguia entender. Esperei até o fim que a situação não chegasse a este ponto e que a crise não degenerasse em conflito. Espero que um efeito dominó não seja desencadeado e que a diplomacia feche essa brecha tão grave. Meus pensamentos e minha solidariedade vão para o povo da Ucrânia e para todas as vítimas desta guerra“, escreveu o zagueiro Giorgio Chiellini, da Juventus.

Natural de Vukovar, cidade localizada atualmente na Croácia, o técnico Sinisa Mihajlovic, do Bologna, se emocionou ao falar sobre a situação na Ucrânia em uma coletiva de imprensa. Vale relembrar que o ex-jogador vivenciou durante os anos 1990 uma sangrenta guerra civil na antiga Iugoslávia.

Quando há uma guerra entre os ricos, os pobres são os que morrem. A guerra não pode ser a única maneira de resolver os problemas. Na época, eu queria que os treinos durassem 24 horas, porque só nesses momentos eu não pensava no bombardeios. Quando o treino acabava era uma bagunça, os pensamentos sobre o conflito voltavam e tudo ficava mais complicado. Espero que não aconteça, mas a guerra é a notícia principal por cinco dias, mas conforme o tempo passa, ela cai para segunda, terceira, quarta e, por fim, as pessoas se acostumam com aquilo. Eu me lembre de que não tive notícias de meus pais por duas semanas e não fazia ideia se eles estavam vivos ou mortos. Todos temos que contribuir para a paz e tentar fazer com que isso cesse o mais rápido possível“, disse o comandante sérvio.

Na atual temporada da Serie A, apenas três jogadores ucranianos disputam a elite do Campeonato Italiano: Ruslan Malinovskyi (Atalanta), Vladyslav Supryaha (Sampdoria) e Viktor Kovalenko (Spezia). O trio recebeu bastante apoio dos seus respectivos clubes neste delicado momento.