Há algum tempo, o Tite e todos os milhões de técnicos que a Seleção Brasileira possui, cada um nas suas respectivas casas, sabiam que um dos raros problemas que o país pentacampeão do mundo apresentava nas Eliminatórias era a organização ofensiva, ou seja, era necessário arrumar o ataque do Brasil.
Na defesa, a Seleção é muito sólida e sofre muito pouco desde a chegada de Tite, em 2016. Em 27 jogos de Eliminatórias sob comando do atual treinador, o Brasil sofreu apenas oito gols, ou seja, tem uma média inferior a 0,3 gols sofridos por partida. É importante destacar que dentre estes jogos, obviamente, estão os adversários mais modestos da América do Sul, mas também confrontos frente à Argentina, ao Uruguai e outros rivais mais cascudos desde 2016.
Não existem razões para criticar a defesa brasileira. São vários destaques do futebol mundial: os goleiros, os zagueiros e os volantes defensivos estão em um patamar único.
A defesa nunca foi o problema e Tite sabia disso. O treinador deve ter compreendido que a falta de variações ofensivas era o grande defeito do seu time.
Por isso, mesmo em meio às críticas, o treinador conseguiu reformular o ataque do Brasil um pouco antes da Copa e algumas exibições recentes deixam claro que esta reformulação, mesmo em cima da hora, é uma ótima notícia. Uma nova geração surgiu, ganhou espaço e mostrou o seu talento.
As convocações anteriores
Por alguns anos, até pelas opções existentes, Tite convocava jogadores que não eram unanimidades ou atletas que jogavam bem nos seus clubes, porém não apresentavam o mesmo rendimento na Seleção. Logo, se faz necessário pontuar quais foram os atacantes escolhidos nas convocações para as competições anteriores.
Copa do Mundo de 2018
- Douglas Costa;
- Gabriel Jesus;
- Neymar Jr.;
- Roberto Firmino;
- Taison;
- Willian;
Copa América de 2019
- David Neres;
- Everton Cebolinha;
- Gabriel Jesus;
- Neymar Jr. (substuído por Willian por causa de uma lesão);
- Richarlison;
- Roberto Firmino;
Copa América de 2021
- Everton Cebolinha;
- Gabriel Barbosa;
- Gabriel Jesus;
- Neymar Jr.;
- Richarlison;
- Roberto Firmino;
- Vinícius Jr.;
Logo, Gabriel Jesus, Neymar e Roberto Firmino são os únicos atacantes que foram convocados por Tite nas três competições.
Uma jovem geração
Entendendo as críticas recebidas sobre a rigidez do seu ataque, principalmente após a derrota na final da Copa América, onde o Brasil não teve grandes chances para empatar a partida, Tite optou por uma nova geração. E a torcida abraçou a ideia, visto que a mudança foi vista facilmente em campo.
Nesta última data FIFA, no fim de janeiro, Tite contou com os seguintes atacantes:
- Antony;
- Gabriel Barbosa;
- Gabriel Jesus;
- Matheus Cunha;
- Raphinha;
- Rodrygo;
- Vinícius Jr;
Por causa da lesão de Neymar, apenas Gabriel Jesus segue sendo chamado e houve uma grande reformulação, principalmente ao analisar a convocação da Copa América de 2019. Pilares do ataque como Roberto Firmino e Richarlison não foram convocados e Tite não teve medo de deixar os seus jogadores de confiança fora para testar os jovens atletas. E o teste deu certo.
O ataque formado por Raphinha, Matheus Cunha e Vinícius Júnior chamou a atenção e as entradas de Antony e Rodrygo também devem ser exaltadas, visto que conseguiram até balançar as redes na boa vitória frente ao Paraguai.
Estes cinco nomes fazem parte de uma clara reformulação. Raphinha tem 25 anos e é o mais “velho”. Matheus Cunha tem 22 anos. Antony, Vinícius Jr. e Rodrygo possuem apenas 21.
Já Gabriel Barbosa e Gabriel Jesus não foram tão bem nas últimas oportunidades dadas por Tite, mas também são atletas jovens: Gabigol tem 25 anos, enquanto Jesus tem 24.
O dedo do treinador
Muitos torcedores falam de uma “panela” feita por Tite por causa dos seus nomes de confiança. É necessário concordar com algumas críticas, pois o treinador ainda segue errando em algumas questões e ele não conseguirá agradar todos os brasileiros. No entanto, é importante reconhecer que o técnico teve coragem e inteligência para reformular o setor que mais necessitava de uma mudança com pouco tempo, visto que já estamos em 2022 e não é normal realizar mudanças assim no ano do mundial.
Tite não teve medo e parou de dar chances para nomes como Everton Cebolinha, Roberto Firmino e Richarlison, jogadores que estavam “certos” em todas as convocações do treinador. Além de chamar a jovem geração, Tite deu espaço para os garotos e não hesitou: é o momento deles e o Brasil todo sabe disso. Felizmente, Tite também entendeu.
Além do dedo do técnico para dar a merecida oportunidade para os jovens que estavam pedindo passagem, Tite deve ser valorizado pela ideia de jogo que proporcionou para estes atletas.
Reconhecendo a características destes jovens – velocidade e jogadas individuais -, Tite fez com que a Seleção Brasileira se tornasse um time mais veloz e letal, com uma crucial ligação rápida entre defesa e ataque. As partidas contra o Uruguai e frente ao Paraguai são ótimos exemplos de como isso funcionou, contrapondo o ataque monótono do Brasil que estava sendo criticado, com razão, pela torcida, no início de 2021.
O trio de ataque do Brasil
No entanto, Tite é apenas uma parte importante da ascensão de jovens jogadores que chegaram e irão ficar. O lugar é deles por alguns anos e o Brasil não pode reclamar da sua atual “safra” de craques.
O ataque da Seleção Brasileira nas duas partidas do mês de janeiro contou com Raphinha na direita, Vinícius Júnior na esquerda e Matheus Cunha centralizado. O ataque se complementou por várias razões, sendo a principal o talento deles, mas também é válido destacar que todos se movimentam muito, vão em direção do gol e abrem bastante espaço, visto que os pontas possuem a jogada de levar para dentro como característica, ou seja, existe um corredor que pode ser bem explorado quando houver entrosamento.
O trio de ataque do Brasil não está decidido, obviamente, mas os três jogadores que atuaram nesta data FIFA deram conta do recado e estarão em alto nível na Copa do Mundo, visto que jogam em ótimos clubes na Europa – Raphinha pode sair do Leeds, equipe treinada pelo genial Marcelo Bielsa, antes do mundial e dar um passo além na sua carreira.
Matheus Cunha, Raphinha e Vinícius Júnior se completaram e jogaram muito. Todos os brasileiros se sentiram bem ao ver os atacantes. Além disso, Antony e Rodrygo saíram do banco e mostraram que também são jovens que possuem muito talento. A disputa é dura, jovem, justa e benéfica para a Seleção. O Brasil está vendo o seu ataque ser reformulado em um ano de Copa do Mundo e isso é uma ótima notícia para quem sonha com o hexacampeonato.
Cuidado com as afirmações calorosas
É complicado afirmar que alguma opinião está equivocada, mas os argumentos abaixo podem servir para provar que certas afirmações não são tão justas e fazem parte apenas do calor do momento após o fim de um bom jogo.
Muitas pessoas afirmaram nas redes sociais que a Seleção Brasileira é “melhor sem Neymar”. Não, nenhum time fica melhor sem o seu grande jogador, o qual atua muito bem com a camisa amarela. O dono da 10 não é o segundo maior artilheiro do Brasil à toa.
É sabido que Neymar tem uma certa antipatia de uma parte da torcida brasileira por causa do seu estilo de jogo e de vida, mas é indiscutível a sua qualidade. Os jovens podem até se tornar mais talentosos e vitoriosos que ele no futuro, mas o mundial do Qatar é uma grande oportunidade para Neymar. Um dos melhores jogadores do mundo não pode ficar fora da sua seleção e ele se encaixa facilmente com estes garotos.
Há alguns anos, Neymar está atuando como armador, partindo da esquerda para o meio, como Philippe Coutinho fez – e fez muito bem, por sinal – contra o Paraguai. Sendo assim e dependendo de alguns ajustes, o Brasil pode sim jogar com “quatro” atacantes. A qualidade de Neymar acrescentaria muito neste trio de jovens que está se formando.
Por isso, cuidado com as afirmações calorosas. Neymar é o grande jogador do futebol brasileiro e ele acrescentará bastante em meio aos garotos.
Além do ataque do Brasil…
Antes de encerrar uma análise sobre o ataque do Brasil, é necessário falar um pouco sobre a defesa, porque Marquinhos joga demais. O zagueiro da Seleção Brasieira toma conta da zaga, é um dos líderes do time e ainda ajuda na construção: ele deu duas assistências contra o Paraguai. Marquinhos é um zagueiro completo, já que consegue ir muito bem em todos os fundamentos necessários. É um craque da defesa!
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— CBF Futebol (@CBF_Futebol) February 2, 2022
Foto: Lucas Figueiredo/CBF