Pressão alta, dinâmicas de terceiro homem e nove fixo: A tática de Paulo Sousa por setores

Uma cara desconhecida chegou ao futebol brasileiro. Quando isso acontece, vêm junto com ela indagações sobre quem ela é, o que ela faz e quais são as chances de ela dar certo por aqui. Paulo Sousa, depois de Queens Park Rangers, Swansea City, Leicester, Videoton, Maccabi Tel Aviv, Basel, Fiorentina, Tianjin Quanjian, Bordeaux e Seleção Polonesa, resolveu se aventurar em um dos mundos mais competitivos e malucos do futebol. Em seus primeiros treinos no Flamengo, a rigidez e o detalhismo foram notícias, mas, agora, vejamos o que ele provavelmente fará na parte tática.

Sistema Defensivo

Paulo já demonstrou, em quase todos os trabalhos anteriores, a capacidade de fazer uma integração global apurada. Isto é, coordenar os movimentos de diferentes setores do campo no momento de marcação. Assim, quando os atacantes sobem, os meio-campistas também avançam para fechar as costas dos receptores adversários e os defensores ocupam as entrelinhas. O time não se desagrupa!

Com isso, suas equipes costumam fazer marcação em bloco médio-alto. Na Fiorentina, no Bordeaux e na Seleção Polonesa, os dois homens mais avançados pressionavam o portador para induzir a chegada da bola ao corredor lateral. A partir disso, toda a equipe subia, fechava as linhas de passe e a posse era recuperada próxima ao gol. 

Em bloco baixo, são formadas duas linhas para proteger a entrada da área. Quando o adversário tem mais homens mais próximos ao fundo, a linha de cinco é utilizada, com o objetivo de proteger também a zona de meio espaço – entre o corredor central e o corredor lateral -. Já quando o adversário é mais denso no meio de campo, duas linhas de quatro aparecem. 

Saída de bola

Com grandes inspirações no jogo de posição, Paulo sempre buscou alternativas para atrair o adversário durante a primeira fase de construção. É mais comum vê-lo utilizar estruturas de 3+2 ou 4+2. Na primeira, Filipe Luís ficaria alinhado com os dois zagueiros e Matheuzinho (ou Isla) assumiria a condição de ala. Na segunda, haveria uma linha de quatro clássica. Em ambas, os dois volantes jogarão de costas como opção para progredir o jogo. Devido a essa habilidade, Thiago Maia pode ganhar espaço.

Os dois homens de meio mais recuados – Arão e Andreas ou Thiago – serão obrigados a distribuir com rapidez e a ler os espaços vazios, uma vez que o novo técnico utiliza com frequência as dinâmicas de terceiro homem, que consiste em: o portador toca para um homem que está pressionado, este atrai os marcadores e aciona diretamente outro que está livre.

Dinâmicas de meio campo

Na segunda fase de construção, serão comuns algumas dinâmicas para criar superioridade numérica e espaços vazios. Os laterais do “treinador romântico” comumente avançam e ficam perfilados com o extremo do mesmo lado, para fazer o “dois contra um”. E, agora, vem a minha primeira grande aposta: Matheuzinho será titular na temporada! (eu sei que vocês já devem ter visto nas pranchetas anteriores).

Além disso, Arrascaeta deve ser utilizado, em ocasiões específicas, como um “circulador”, o homem que percorre toda a extensão do campo para fazer associações e acelerar o jogo quando preciso. 

Podemos esperar uma equipe mais ativa nos momentos sem a bola, com desmarques de ruptura na última linha, apoios e outros tipos de movimentação que atraiam os jogadores adversários e criem espaços livres. Na coletiva de apresentação, o Paulo disse que o time tinha uma movimentação abaixo do esperado.

Furando bloqueios

Agora, o mais importante: bola na rede. Como Paulo Sousa fura os bloqueios dos oponentes? A essa altura, eu, você, a torcida do Flamengo e a população dos Estados Unidos sabemos que ele gosta de ter um “camisa nove” fixo, que fica na cara do gol. E, sim, o Pedro terá mais espaço!

Eu não acredito que ele será titular de primeira instância com todos disponíveis, mas sua figura será importantíssima para o desenrolar da temporada, sobretudo pelo apoio frontal que ele oferece. Sua habilidade de receber de costas e esperar a passagem dos companheiros promete ser vital para o encaixe ofensivo. 

Então, diante disso, há vida sem Pedro? Sim. De forma semelhante à que Pep Guardiola faz no City, Paulo Sousa pode revezar a figura que dá profundidade ao time, basta praticar a recepção de costas e a movimentação própria de um centroavante. E, além disso, as triangulações nas laterais e as entradas no último terço por fora continuarão sendo constantes. 

No mais, há muitas dúvidas e desafios. As primeiras serão sanadas com o desenrolar da temporada. Os últimos terão que ser sanados por Paulo Sousa e sua comissão técnica de 6 homens. A tendência é que surjam avanços na fisiologia, no encaixe tático e na intencionalidade individual de cada jogador. Como eu disse, minha expectativa inicial é que, com todas as peças disponíveis, a base do time titular da última temporada se mantenha, com possíveis alterações no gol e na lateral direita: D. Alves (Hugo), Matheuzinho (Isla), Rodrigo Caio, David Luiz, Filipe Luís, Arão, Andreas, Arrascaeta, Everton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabi.