O ano de 2021 foi muito conturbado para Chievo Verona e Livorno, dois clubes conhecidos da Itália que tiveram o mesmo destino de Parma, Palermo, Fiorentina e outras centenas de equipes do país europeu. Ambos os times decretaram falência e precisaram recomeçar suas respectivas trajetórias nas divisões amadoras do calcio.
Detentor de dois títulos da Serie B e vice-campeão da Serie A na temporada 1942/43, o Livorno é um dos clubes mais tradicionais da região da Toscana, tendo disputado 29 vezes a principal divisão do Campeonato Italiano. No entanto, os últimos anos não foram bons para o Amaranto e o time foi laçado por uma impetuosa crise financeira que o levou à ruína.
Após uma breve passagem pela segunda divisão, o Livorno voltou para a Serie C depois de uma desastrosa temporada 2019/20, tendo sido rebaixado com cinco rodadas de antecedência. Além disso, o presidente do clube, Aldo Spinelli, renunciou ao cargo e colocou um ponto final em uma gestão que durou mais de 20 anos.
Com a saída da família Spinelli, o Livorno passou a ser administrado por um consórcio de empresários liderados por Rosettano Navarra, ex-presidente do Frosinone. Apesar da troca de comando, a situação do clube toscano seguiu alarmante e não acabou evitando a queda para a quarta divisão, que aconteceu em meio a um caos corporativo, falta de pagamentos e dedução de pontos na tabela.
Em meados de agosto, o Livorno não teve o pedido de inscrição para jogar a Serie D aprovado pelas autoridades esportivas da Itália, que foi julgado como inadmissível, principalmente sobre o não cumprimento das suas obrigações financeiras. Com isso, o clube foi excluído da Liga Nacional de Amadores (LND), ficou sem divisão e acabou falindo.
Apesar do terrível destino do Livorno, a cidade toscana não ficou sem seu famoso representante. Pouco tempo depois da falência, o empresário Paolo Toccafondi, dono de uma grande empresa de transporte e logística em Bergamo, formou um novo clube e recebeu o sinal verde para disputar a divisão Eccellenza, o quinto nível do futebol da Itália. O Amaranto teve seu escudo reformulado e foi rebatizado como Unione Sportiva Livorno 1915.
Atualmente, o Livorno se encontra no grupo B da Toscana da quinta divisão, pois a Eccellenza é disputada por centenas de clubes e todos eles são divididos por regiões. Treinado por Francesco Buglio e com o veterano atacante Daniele Vantaggiato em seu plantel, o Amaranto somou 17 pontos em sete jogos e lidera de maneira isolada o campeonato. O primeiro posicionado garante o acesso direto para a Serie D.
De Chievo para Clivense
Detentor de um título da Serie B e maior rival do Hellas Verona, o Chievo é um clube que surpreendeu o futebol italiano no início dos anos 2000, tendo terminado a Serie A em uma inesquecível quarta colocação e conseguido disputar a edição de 2006/07 da Liga dos Campeões.
No entanto, aquele histórico time do Chievo, que tinha Sergio Pellissier, Amauri, Massimo Marazzina, Eugenio Corini e entre outros atletas, ficou no passado. O acúmulo de dívidas milionárias e a falta de pagamentos de salários atingiram em cheio o clube da cidade de Verona, que não conseguiu escapar da falência.
Pellissier, maior ídolo da história do Chievo, tentou intermediar um grupo de acionistas para salvar o clube italiano, mas não obteve sucesso, pois o gialloblù foi excluído da Serie B e não conseguiu se inscrever nas divisões mais inferiores. O ex-artilheiro, por sua vez, viu a equipe que defendeu entre os anos de 2002 e 2019 desaparecer por completa, mas não ficou de braços cruzados.
O ex-atacante de 42 anos de idade decidiu colocar a mão na massa e, ao lado de Enzo Zanin, deu origem ao FC Clivense. O logotipo e o nome dessa nova equipe são totalmente diferentes dos Mussi Volanti, mas o clube possui um pouco do DNA do não mais existente Chievo. Além disso, a fundação do time deu forças aos torcedores do gialloblù, que não deixaram de apoiar a empresa liderada por Pellissier.
Apesar de toda essa reviravolta, o Clivense não está cercado de nenhum glamour. O clube veronês disputa a Terza Categoria, a nona divisão do Campeonato Italiano e último nível da pirâmide do futebol do país, e possui diversos jovens jogadores, entre eles Davide Squizzi, filho do ex-goleiro do Chievo Lorenzo Squizzi. A equipe manda seus jogos no Estádio Aldo Olivieri, um complexo com capacidade para três mil pessoas localizado nas proximidades do Estádio Marcantonio Bentegodi.
A história do Clivense não poderia começar de maneira melhor, pois o clube italiano venceu todos os oito jogos disputados e lidera com folga o grupo B da província de Verona do campeonato. A equipe é uma das favoritas ao acesso para a Seconda Categoria.
As redes sociais do Chievo estão completamente paradas, assim como o site oficial do clube italiano. As últimas atualizações sobre a equipe datam do início de agosto e se referem as desesperadas tentativas do gialloblù em evitar a falência. Por outro lado, alguns fã clubes do time seguem ativos no Instagram, Twitter e Facebook, mas noticiando o cotidiano do Clivense.
O amor e a identificação de Pellissier pelo Chievo deu origem ao Clivense, que ganhou o apoio de diversos torcedores do antigo clube. Além destes nobres sentimentos, o projeto é cercado de muitas esperanças de um incrível futuro para o modesto time.