Xavi no Barça: Antes da paciência, será necessário entendê-lo

O universo do futebol, assim como a vida cotidiana, está cada vez mais imediatista, cobrando resultados ”para ontem” e sem espaço para o respeito aos processos naturais de desenvolvimento. No Brasil, por exemplo, em duas semanas de trabalho de Renato Gaúcho no Flamengo, com vitórias extremamente positivas, já alçavam o time a um patamar que era impossível para qualquer um chegar em um período tão curto.

O mesmo serve para o caso contrário, no atual momento do time carioca não é possível condenar o treinador a um fracasso retumbante. Existem motivos razoavelmente entendíveis que são capazes de levar a compressão do por quê o Flamengo passou por essas fases a não ser o superficial e estereotipado olhar de que Renato é mais um ”motivador” que ”tático”.

E aí está o ponto de discussão ao longo desta coluna: o entendimento. Para que haja paciência, tão requerida para os trabalhos dos treinadores em todo o mundo, antes é necessária a compreensão. Como irei julgar adequadamente um time de futebol se a métrica que uso para isso é inadequada?

Nesse contexto, é que as avaliações do recém-chegado ao cargo de técnico principal do Barcelona, Xavi Hernández, precisam ser cautelosas. Não é possível, nem inteligente, julgar Xavi pelas ideias de Guardiola, muito menos de Cruyff, apesar de seguirem a mesma escola, isso, porém, não significa que todos montem as suas equipes da mesma forma.

Também não seria justo cobrar de Xavi em um espaço de tempo tão curto, que o time jogue da melhor forma possível dentro de seu estilo, porque muitos dos jogadores a disposição do técnico não combinam com suas características. E para mudar isso, principalmente em um clube com as condições financeiras do Barça, leva tempo.

Mas, afinal, como as equipes de Xavi jogam?

Para além dos clichês de ter a posse de bola a qualquer custo e o uso do 4-3-3, em épocas de Al-Sadd, Xavi fez o time do Catar jogar em busca de superioridade numérica em todos os setores do campo em que a bola está. Para isso, utilizou até três zagueiros, ou três jogadores para iniciarem a saída de bola – Koeman, por exemplo, foi muito criticado quando fez o mesmo no Barcelona, afinal estavam lhe julgando com uma régua que não servia para o seu trabalho.

O uso desses três jogadores na saída de bola, mais quatro jogadores no meio, dois pontas e um jogador entre os defensores rivais, serve para que junto com as movimentações treinadas por ele, haja triângulos nos setores da bola, sempre pegando os adversários com menos gente nesses locais. Obviamente, isso é pensado e executado porque é mais fácil criar jogadas tendo superioridade em termos de quantidade, é um pensamento lógico.

Outro ponto importante no estilo do técnico espanhol é quando as equipes marcam alto, pressionando o portador da posse de bola. Nesse caso, permanece a ideia de superioridade numérica, mas se acrescenta também a procura pelo ”homem livre”. Se o rival pressiona por encaixes individuais, o time de Xavi vai estar em busca de algum jogador que não foi coberto pela marcação, através de movimentos treinados e troca de posições dos jogadores em campo, facilitadas pelo número de companheiros naquele setor.

Em conteúdo produzido pelo ótimo The Coaches’ Voice, o multicampeão como jogador explicou esses e outros pilares de sua maneira de atuar como comandante de futebol.

Diante disso, quando momentos de rendimento abaixo do Barcelona acontecerem – e vão acontecer – agora sob o comando de Xavi, que se procure avaliá-lo pelo concreto, o acontecido.

Se o time está conseguindo de fato ter superioridade numérica, se a procura pelo homem livre está bem executada ou se por qualquer dos bastiões do seu estilo estão engrenados. Mas, que não o julguem por simplesmente não usar, por exemplo, o 4-3-3 ou por preterir um falso 9 e outros conceitos que muitas vezes são alheios e distantes da realidade que está sendo praticada.

A paciência requer entendimento, e este só é possível através do conhecimento.