Precisamos falar sobre o Palmeiras de Abel Ferreira?

Abel Ferreira foi anunciado pelo Palmeiras no dia 30 de outubro de 2020, mas foi apresentado apenas no início do mês seguinte. Hoje, o português é o segundo técnico com o trabalho mais longevo na Série A do futebol brasileiro e fica atrás apenas de Maurício Barbieri, que comanda o Red Bull Bragantino desde o dia 4 de setembro de 2020. 

Desde sua estreia ganhou o carinho da torcida e conseguiu bons, ou melhor, ótimos resultados com a equipe, incluindo títulos de peso. Portanto, precisamos com urgência falar sobre o Palmeiras de Abel Ferreira.

Antes de mais nada, levar o Palestra à glória eterna e à Copa do Brasil não pareceu ser o suficiente para blindá-lo de situações adversas que podem acontecer nas melhores famílias… A pior participação de um time brasileiro na história do Mundial de Clubes aconteceu em fevereiro deste ano e foi protagonizada justamente pelo Alviverde. Bem como jamais um clube sul-americano havia terminado a competição em último lugar sem marcar sequer um gol. Ou seja, a partir disso já era possível prever uma chuva torrencial de críticas e desconfianças que tentariam abalar a estrutura luso-brasileira. 

Em 2019, enquanto ainda treinava o Braga, seu primeiro clube no futebol profissional, o treinador concedeu entrevista ao Coache’s Voice e a mesma tornou-se uma mina de ouro para quem busca entendê-lo – ou pelo menos tenta.

“Se o teu adversário está no mesmo nível que você, então tudo bem, pode atacá-lo. Mas se for enfrentar uma montanha, necessita fazer de uma maneira diferente. Em outros jogos, você quer ser protagonista: dominar a posse de bola. Mas, às vezes, tem que aceitar que o rival é mais forte que você. E, nesses casos, é preciso estar equilibrado.”

Conforme se nota, o trecho explica bem uma proposta de jogo que até chega a agradar, mas que não arranca suspiros de todos os 12,6 milhões de palmeirenses espalhados pelo mundo. Pelo contrário, faz com que os ouvidos de Abel estejam acostumados a repetir as palavras “retranqueiro” e “burro” dia após dia.

Há uma lista imensa de jogadores com quem o português gostaria de contar para as competições que disputa. E adivinhem… Eles não vieram. Logo, Abel Ferreira se limitou a um repertório tático que era ainda melhor enquanto as equipes adversárias ainda não haviam aprendido a contra-atacar, o que já não é mais assim. Mas será que há tantos motivos para tamanha pressão sobre seus ombros?

Nesse sentido, os números na competição que mais toma espaço nos corações palmeirenses atualmente demonstram que não. No futebol, a perfeição é uma ambição intangível. Mas se há alguém que pode quebrar este paradigma, esse alguém se chama Abel. Agora em 19 jogos disputados pela Libertadores, ele ganhou 13, empatou quatro e perdeu dois. Portanto, o apelidado “especialista” nesta competição possui um aproveitamento de cerca de 75,4% dos pontos disputados. Talvez a “teimosia” o leve por algum caminho. Por um bom caminho.

O milionário elenco palmeirense é como uma sinfonia que, de vez em quando, acaba desafinando, seja por culpa do maestro ou da própria orquestra, mas é inegável o potencial de render aplausos após as vaias. O time ocupa a vice-colocação da Série A do Campeonato Brasileiro 2021 e está em mais uma final de Libertadores não por acaso, mas além dos acasos.

Abel não tem medo de arriscar com as peças que tem (ou de usá-las como escudo quando necessário), de cometer loucuras que fazem os olhos se fecharem e as mãos rezarem, e tampouco de insistir naquilo que acredita que irá render frutos vitoriosos. Hoje, o Alviverde pode não ter um futebol de “encher os olhos”, mas é um futebol inteligente, e o povo brasileiro, como resultadista que é, não pode negar que sobram reclamações e faltam contra argumentos. 

Dessa forma, independente de classificação, vitórias, títulos – que movem todas as cobiças futebolísticas -, a diretoria do Palestra pretende contar com o treinador por mais um ano. E convenhamos, é o certo a se fazer, queiram ou não. Há de se refletir se vale a pena jogá-lo na fogueira ou apagar este fogo juntos. 

O futebol brasileiro é sim resultadista, como dito acima, mas acima disso é clubista, o que é um mal a ser revisto. É difícil analisar com frieza quando a paixão se sobressai em todo e qualquer assunto que envolve este esporte, todos os amantes dele sabem disso. Mas fica o recado: mantenham a cabeça fria e o coração quente.

Questionar algumas decisões do técnico Abel faz parte, é do jogo. Mas questionar se ele deve ou não permanecer no Palmeiras beira a insanidade.