Manchester City: um time que reflete um projeto.

Muitos criticaram com veemência o fato de o clube azul de Manchester perder a oportunidade de contratar os dois maiores jogadores da geração em uma mesma janela. À primeira vista, realmente, parece estranho, ou, no mínimo, curioso. Ter verba à disposição e deixar escapar pelas mãos a oportunidade de contar com Messi e Cristiano Ronaldo. No entanto, por mais incrível que pareça, há uma lógica por trás.

Primeiro: o alvo da equipe era Harry Kane, que, em uma tacada de mestre da diretoria do Tottenham, permaneceu no time londrino. Na minha opinião, essa foi a melhor atuação de um clube na última janela de transferências. Segundo: o trabalho do Manchester City não se resume a uma ou duas temporadas. As ações do comando técnico, sobretudo no momento de contratar, obedecem aos princípios desse trabalho, subordinado ao Grupo City, que é detentor de vários times pelo mundo.

Em fevereiro de 2016, Guardiola foi o escolhido para comandar o Manchester City. Isso diz muito sobre um trabalho estruturado na ideia de jogo. O treinador liderou uma revolução no Barcelona, na era pós-Ronaldinho Gaúcho, ao formular uma equipe baseada na construção de jogo meticulosamente calculada. O tão aclamado e discutido jogo de posição foi popularizado com Xavi, Iniesta, Busquets e tantos outros, que ocupavam os espaços do campo com rigidez, geravam buracos nas equipes adversárias por meio da troca de passes e escolhiam a dedo o momento certo para finalizar a jogada. A partir dessa brincadeira, surgiu a função do falso nove, exercida pela primeira vez pelo Extraterrestre em um “El Classico” de 2011, e uma era de dominação e encanto no esporte.

Mas, afinal, o que isso tem a ver com o clube inglês?

A chave para compreensão são as palavras integração e durabilidade. O Grupo City possui a intenção de prospectar suas instituições sob um um mesmo estilo: o jogo pensado e vistoso. Isto é, o futebol praticado em Manchester semelhante ao praticado pelo Melboune City, pelo Girona, pelo Mumbay City e etc. Projetos dessa magnitude requerem tempo e disciplina às diretrizes.

Em função disso, a opção por jogadores mais jovens no time principal, como Jack Grealish – a contratação mais cara de um jogador inglês na história -, Ruben Diaz, Zinchenko, Cancelo, Gabriel Jesus e Ferrán Torres, e a captura de talentos mundo afora pelos donos da marca, para integrar as equipes “city” no futuro, como Kayke, adquirido junto ao Fluminense, e Aguilar, ao Alianza Lima. Ambos têm apenas 16 anos de idade. Ademais, o trabalho das categorias de base e do futebol feminino do clube são consonantes ao contexto de padronização e já é possível observar resultados, a exemplo de Phil Foden, destaque do time na última temporada.

Atualmente, o Manchester City, dentro das quatro linhas, é uma equipe erguida sobre fundamentos sólidos. Um time que retém a posse da bola na maior parte do tempo e se dedica, primeiramente, à construção. Quase todos os jogadores participam da distribuição de jogo. O goleiro Éderson faz lançamentos primorosos ao meio e ao ataque para quebrar as linhas adversárias, De Bruyne é polivalente e pode armar vindo de trás ou mais próximo à área, Cancelo, Walker e Zinchenko são utilizados na faixa central para fazer a saída de bola e Bernardo Silva fica na zona de meio-espaço para articular triangulações entre os corredores centrais e laterais.

Devido ao fator consolidação de ideia de jogo, Guardiola sente segurança para alternar as peças e as estratégias, segundo cada contexto específico. Por exemplo, no primeiro jogo da semifinal da última Champions League, contra o Paris Saint Germain, o time jogou de forma mais reativa, com menos posse do que o habitual, e venceu por causa da consistência. O principal calcanhar de Aquiles é a finalização. Por vezes, o time cria muito e peca na hora de balançar as redes. A tentativa de correção, na janela, foi frustrada. Mesmo não tendo conquistado ainda a principal competição de clubes da Europa, a passagem do técnico espanhol é excelente, uma vez que o futebol não se resume a um título.

NÚMEROS

Seguem algumas estatísticas do SofaScore da equipe na Premier League 20/21:

Gols por jogo: 2,2

Grandes chances por jogo: 2,8

Finalizações por jogo: 11,2

Posse de bola média: 63,7%

Interceptações por jogo: 8,4

Gols concedidos por jogo: 0,8

Duelos ganhos por jogo: 48,3

Faltas por jogo: 9,5

 

 

Classificação fornecida por SofaScore LiveScore