Para o otimismo continuar com Louis van Gaal

Só vai melhorar.

Foi a promessa otimista de Louis van Gaal, logo após a goleada da seleção masculina da Holanda, por 6 a 1, sobre a Turquia, na rodada passada das eliminatórias europeias para a Copa de 2022. Era compreensível: afinal de contas, recém-chegado para a terceira passagem pela Laranja, tendo de conhecer um grupo novo, no meio do caminho, sob a pressão de uma campanha de qualificação para o Mundial (sendo que os Países Baixos não vão a um desde 2014), van Gaal já deixara a boa impressão de que uma formação tinha sido achada. Terá a grande chance de provar isso: afinal, nestas datas FIFA, a Laranja enfrentará os adversários mais fracos do grupo G – a Letônia, nesta sexta, em Riga (capital letã), e Gibraltar, na próxima segunda, em Roterdã.

Para o benefício de van Gaal, vários dos titulares absolutos estão em boa forma. Denzel Dumfries na lateral direita, Virgil van Dijk e Stefan de Vrij na zaga (com Matthijs de Ligt já “mais perto de voltar”, como van Gaal sinalizou numa das entrevistas coletivas nesta semana), Daley Blind na lateral esquerda (mesmo sem ser capitão, Blind é considerado uma das referências do grupo), Frenkie de Jong no meio-campo, Memphis Depay no ataque – e Georginio Wijnaldum só não foi citado porque está suspenso contra a Letônia, por cartões amarelos. Só aumenta a chance de haver mais entrosamento, mais jogadas ensaiadas… enfim, a chance dos “automatismos”, que van Gaal não teve tempo de praticar na sua chegada, e que possibilitarão a melhora que ele preconizou.

Por outro lado, mesmo em meio a um cenário em que a Holanda não pode errar se quiser chegar à Copa (até porque a Noruega segue à espreita), van Gaal acha possibilidades para por em prática um dos pontos fortes de toda a sua carreira: abrir espaço para jovens talentos. Ou mesmo para jogadores discretos, que podem ajudar coletivamente. Por isso, uma convocação até maior do que as datas FIFA de setembro: ao invés dos 23 habituais, 26 chamados à disposição (dentro de uma lista com cerca de 100 jogadores, analisada pela comissão técnica).

Daí, também, algumas apostas de van Gaal. A mais curiosa, entre os quatro goleiros convocados: além dos três que receberam confiança imediata do técnico – o provável titular Justin Bijlow, Tim Krul e Joël Drommel -, Mark Flekken estreou em convocações para a seleção holandesa masculina. Nem em seleções de base Flekken tinha sido lembrado. Mas é justificado: aos 28 anos, o goleiro é um dos personagens fundamentais do bom começo do Freiburg no Campeonato Alemão. Van Gaal indicou isso já na coletiva pós-jogo, contra a Turquia: “Eu não o vi direito, mas ouvi falar que ele está muito bem. É Mark Flekken, com dois ‘k’“. Na coletiva de apresentação, segunda-feira passada, o técnico explicou mais, até com autorreferências assumidas: “Ele joga muito bem com os pés, nem queira saber. É um goleiro típico dos times de van Gaal“.

Outra aposta já era mais previsível. Destaque no bom início do Club Brugge (tanto na Liga dos Campeões quanto no Campeonato Belga), o ponta-direita Noa Lang já era nome habitual na seleção sub-21 dos Países Baixos – Lang até esteve na Euro da categoria, neste ano, e só não jogou mais porque foi cortado na fase de grupos, por problemas musculares. Porém, tão falada quanto a habilidade na direita é o ar temperamental de Lang (há quem diga que foi por isso que Erik ten Hag o dispensou do Ajax sem dores na consciência). E van Gaal já tratou de alertar, conforme informou: “Tivemos uma conversa franca, pedi para ele não ficar provocando tanto“. Noa Lang aceitou – mais ou menos: “Faz parte de quem eu sou. Seria muito chato se todos fossem iguais. Eu só preciso levar isso [provocação] para o lado positivo“.

Aliás, já houve até pedidos por mais renovação. Mais precisamente, um pedido: Arnaut Danjuma Groeneveld, chegando bem ao Villarreal, sem ir à seleção masculina há três anos. A presença de Groeneveld foi pedida, por exemplo, no lugar de Luuk de Jong, um dos alvos (até injustamente) da má fase do Barcelona, dentro e fora de campo. Van Gaal não o chamou. Mas advertiu que o ponta está em seu radar – e aproveitou para uma rara alfinetada nos jornalistas, nesta fase mais pacífica de sua carreira: “Eu não o chamei agora, mas isso não significa que ele não estará nas próximas convocações. Não preciso que vocês [jornalistas] me falem que ele está bem. Vocês acham que a federação não tem olheiros?“.

Mas o pedido por Danjuma sequer chegou a ser uma polêmica. O grupo de 26 convocados trabalhou com tranquilidade, no centro de treinamentos em Zeist – só Memphis Depay e Frenkie de Jong foram mais consultados, e ainda assim, para falarem sobre o caos no Barcelona em que jogam. Algo que facilita o caminho para que a Holanda chegue ao ponto que van Gaal espera: mais entrosamento, mais facilidades, mais conhecimento do grupo, continuar o otimismo com que as datas FIFA passadas foram encerradas. Tudo para que a Laranja abra ainda mais o caminho de volta para a Copa. Tudo para comprovar o que van Gaal prometeu: a Laranja só vai melhorar.

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