Dentro da realidade do futebol, relações de amor e ódio são estabelecidas entre torcida e mandatários até com certa frequência. Por exemplo, há vascaínos que adoram o que foi Eurico Miranda, outros odeiam. Florentino Pérez no Real Madrid, Andrea Agnelli na Juventus e Aurelio De Laurentiis no Napoli, são alguns dos outros tantos casos em que dirigentes despertam sentimentos extemos nos torcedores, seja pela forma de administrar esses clubes, ou até pela ideologia que compactuam.
Todavia, a relação em particular de um empresário de Singapura e um time da comunidade valenciana, na Espanha, não seguiu esse script e provavelmente nunca seguirá. Peter Lim e Valencia, desde o inicio, são um caso inglório.
Mesmo quando, em 2014, Lim comprou o Valencia por cerca de £94 milhões, e investiu ao todo £200 milhões, incluindo compra de jogadores, em um período de 10 meses, havia a desconfiança de que tudo poderia desandar, afinal, as escolhas do mandatário para gestão do time de futebol foram sempre questionáveis.
De 2015 a 2017, foram seis mudanças de treinador no comando do Valencia. Além disso, decisões de negociar os principais jogadores até mesmo quando não queriam sair, como no caso de Dani Parejo, que é um ídolo da torcida e estava no clube durante quase uma década. Lim também fazia promessas aos técnicos que assumissem, sobre novas contratações, que com o passar do tempo não se cumpriam. Javi Gracia, na temporada passada, ameaçou sair do comando do time, depois de um episódio como este. No fim, Gracia foi demitido por não conseguir levar uma barca furada à lua.
E não é que concomitantemente Peter Lim sanava as dividas do clube e a saídas dos principais nomes do elenco faziam parte de uma projeto de saneamento financeiro. Pelo contrário, o clube afundava ainda mais em dividias. A arrecadação do Valencia estagnou sob o comando do magnata, na casa dos £100 milhões, enquanto o recorde de £450 milhões em dividas foi alcançado.
De quebra ainda há a situação do Mestalla não ser um estádio rentável para o que o futebol moderno requer, sem contar que o novo estádio que está sendo construído desde 2007 implica em outros elevados gastos.
Porém, em meio à toda essa instabilidade e a própria dúvida se Peter Lim continuará por muito tempo no Valencia, o time dá bons indícios de que pode ir contra os prognósticos na atual temporada de LaLiga. Com três rodadas já disputadas, conseguiu duas vitórias contra Getafe e Alavés e um empate, contra o bom Granada. Mas, para além dos resultados, o que interessa é a solidez do esquema de José Bordalás, atual treinador.
O técnico que brilhou em Getafe, parece ter entendido o contexto em que está inserido e o que, de fato, realmente pode tirar do elenco valenciano. Assim como no auge do Valencia com Marcelino García Toral, com seu memorável 4-2-2, Bordalás repete a dose de pragmatismo pois sabe que a base que tem em mãos é moldada não para encantar, mas para ser objetiva e mortal no ataque.
Com um elenco onde um dos expoentes, Carlos Soler, está mais maduro do que nunca, inclusive com importância até na seleção espanhola de Luís Enrique, além dos ótimos Gayá e Gonçalo Guedes, o Valencia pode, enfim, ter uma temporada tranquila, ou pelo menos figurando na primeira metade da tabela no campeonato. Existe uma ligação, tão preciosa e escassa nos últimos anos de clube, entre técnico e time, que pode dar um afago a torcida em meio ao caos causado por Peter Lim.
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— Valencia CF (@valenciacf_en) September 8, 2021