Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum ver o Leicester City brigando nas primeiras posições da tabela na Premier League. Porém, a história nem sempre foi assim, ou melhor, nos últimos seis anos a maré começou a virar para a então pequena equipe de East Midlands.
Na última temporada inglesa (2020/2021), os comandados de Brendan Rodgers conquistaram a FA Cup sobre o Chelsea, equipe que dias depois da final se sagraria campeã europeia.
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Com um dos atacantes mais letais do futebol inglês, o Leicester hoje é o que podemos chamar de “novo integrante do Big Six” (grupo dos seis principais times da Premier League).
Esse feito tem nome e sobrenome, e, se você está pensando que já vou largar Cláudio Ranieri na história, está bem enganado. Aqui, o nome da vez é Vichai Srivaddhanaprahbha, tailandês que faleceu no ano de 2018, mas peça fundamental na história recente do clube.
Sem mais delongas, podemos apresentar agora:
A virada de chave: Como o Leicester City tornou-se um dos grandes na Premier League.
Um pouco de história sobre o Leicester City Football Club
Antes de mais nada, até mesmo de entrarmos no foco central da história, precisamos situar em que cenário o Leicester City Football Club passou a figurar como uma equipe profissional de futebol na Inglaterra.
Em suma, sua fundação é datada no ano de 1884, ou seja, uma equipe com mais de 130 anos de fundação – algo extremamente comum na Terra da Rainha. Entretanto, o primeiro nome do time foi Leicester Fosse, uma homenagem a um campo homônimo localizado na cidade. Foi no ano de 1919, o time passou a se chamar Leicester City.
Ao observar o logo da equipe, certamente se deparou com uma raposa e, muito provavelmente ficou pensando: o que esse animal tem de relação com um time de futebol? A resposta é simples, nada! Porém, na época em que o time foi fundado, a cidade de Leicester vivia uma grande caça a esse animal, dessa forma, ele foi lembrado, sendo que até hoje o apelido do Leicester City é The Foxes (as raposas).
O principal rival do time é o Nottingham Forest, uma das principais equipes do século passado no futebol inglês e que chegou a vencer a Champions League em duas ocasiões.
Em toda a sua história, o Leicester foi considerado um time de no máximo médio porte. Até o ano de 2014, a principal conquista dos Foxes havia sido a Copa da Liga Inglesa em três edições, 1963/1964, 1996/1997 e 1999/2000, sem falar em sete conquistas da Championship – a segunda divisão do país –, sendo o maior campeão do torneio ao lado do Manchester City.
Um nome lendário da equipe é o ex-goleiro Gordon Bancks que chegou a receber por duas temporadas o prêmio de melhor de sua posição pela FIFA, e também ficou conhecido pela “defesa do século” na Copa do Mundo de 1970 após cabeçada de Pelé.
Vichai Srivaddhanaprahbha: o homem que mudou a história
No ano de 2010, Vichai Srivaddhanaprahbha, um bilionário tailandês, que tinha sua principal ligação esportiva com o Polo – já teve um time em seu país e outro na Inglaterra – resolveu comprar o Leicester City, equipe que estava retornando à Championship após queda para a terceira divisão nacional.
O magnata tinha metas audaciosas, dentre elas, fazer dos Foxes campeões da Premier League, à primeira vista, algo inimaginável para uma equipe que poucas vezes havia ficado na primeira divisão. Com sua fortuna oriunda de um império de freeshops, Vichai era o dono e fundador da King Power, que após a aquisição do clube, passou a ser o nome do estádio do Leicester City.
Sob o poder do tailandês, o time retornou à Premier League na temporada 2014/2015, a qual também ficou conhecida por uma das maiores remontadas do torneio.
O Leicester estava fadado ao rebaixamento, porém, com sete vitórias nas últimas nove partidas da temporada, a equipe que era comandada por Nigel Pearson terminou a competição em 14º lugar.
Aquela altura da história, os Foxes já contavam com nomes como Kasper Schmeichel, Robert Hut, Wes Morgan, Danny Simpson, Danny Drinkwater, Andy King, Marc Albrigton, Jeffrey Schlupp, e uma certa dupla ofensiva composta por Riyad Mahrez e Jamie Vardy. Entretanto, naquela temporada, o inglês e o argelino somaram apenas nove gols e oito assistências.
A promessa foi cumprida: Leicester City campeão
Lembra que algumas linhas atrás foi comentado que Vinchai prometeu fazer do Leicester City um campeão inglês, pois bem, o que muitos consideraram como uma loucura do tailandês, tornou-se uma realidade para uma cidade carente de títulos importantes no futebol.
Uma temporada após ter conseguido o milagre de permanecer na Premier League, os Foxes buscaram a contratação do experiente treinador italiano Cláudio Ranieri, que meses após o seu retorno à Inglaterra – já havia treinado o Chelsea entre 2000 e 2004 – sairia coroado da cidade.
Vinchai em nenhum momento buscou grandes astros para o seu Leicester, por mais que contasse com uma boa verba, o clube sempre fez contratações pontuais e em ligas periféricas. Na temporada de 2015/2016, por exemplo, Daniel Amartey ex-Copenhagem, Christian Fuchs ex-Schalke 04 e N’golo Kanté ex-Caen foram contratados.
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Com uma equipe extremamente alinhada taticamente, o Leicester City foi derrubando um a um dos principais candidatos à Premier League. Mesmo com uma pontuação considerada baixa para um campeão, 81 pontos, os Foxes destronaram todos os times do Big Six.
Em nenhum momento da temporada a equipe comandada por Ranieri desempenho um futebol de encher os olhos, contudo, o empenho foi trazendo fãs e admiradores. Até que o sonho de Vinchai, ou melhor, a promessa fosse cumprida em 2 de maio de 2016, quando o Chelsea segurou um empate com o Tottenham por 2 a 2, os Spurs eram os únicos que poderiam parar os Foxes.
Naquela temporada, Jamie Vardy com 24 gols e seis assistências, Riyad Mahrez com 17 gols e 11 assistências e N’golo Kanté como um dos maiores marcadores e melhor jogador da temporada, o Leicester levou sua maior conquista para casa.
A sequência em uma filosofia de contratações
É normal que após uma grande conquista os principais nomes comecem a atrair os olhos dos grandes clubes do futebol mundial. Na temporada seguinte ao título, Kanté, por exemplo, rumou a Londres para assinar com o Chelsea. Uma época após a saída do francês, foi a vez de Drinkwater tomar o mesmo rumo e de Mahrez ir para o Manchester City.
Contudo, um nome foi permanecendo e marcando o seu lugar na história do clube, o centroavante Jamie Vardy. Muito comparado com o vinho, o jogador, assim como a bebida, ano após ano parece tornar-se melhor ainda.
Após a saída de jogadores importantes, o Leicester City continuou com a sua filosofia de contratações, mesmo com todo o dinheiro de seu dono e também o lucrado após a conquista, o garimpo de novos jogadores em ligas menores seguiu. Wilfried Ndidi e Nampalys Mendy vieram da Bélgica e França respectivamente. Algum tempo depois, Harry Maguire deixou o Hull City para assinar com os Foxes, Adrien Silva e Vicente Iborra saíram de Sporting e Sevilla respectivamente, assim como Kelechi Iheanacho deixou o Manchester City.
Porém, a ótima política de contratações do Leicester começou a dar um maior retorno dentro e fora de campo na temporada 2018/2019, quando Ricardo Pereira, ex-Porto, Youri Tielemans ex-Mônaco, Harvey Barnes ex-West Bromwich e James Maddison ex-Norwich chegaram ao clube que contrataria Brendan Rodgers.
Leicester City e Brendan Rodgers um casamento que demorou para colher frutos
No futebol, assim como na vida, o casamento entre um clube e um treinador pode começar com uma bela lua de mel, ou, até mesmo, demorar a colher os grandes frutos. Entre Leicester City e Brendan Rodgers, a segunda opção parece a melhor escolha.
Mesmo que o escocês que estava se aventurando no Celtic após sair do Liverpool tenha terminado a temporada 2018/2019 em 9º lugar após um péssimo início de jornada de Claude Puel com os Foxes, 2019/2020 foi a época do quase.
Rodgers possuía um ótimo material humano em mãos, ainda mais somando-se aos nomes já citados as chegadas de Dennis Praet e Ayoze Pérez. Mesmo com a saída de Harry Maguire para o United, o time até começou bem a temporada, esboçou rivalizar com Liverpool e City, mas foi perdendo força, e nessa queda, ficou até mesmo sem a Champions League.
O escocês e seus comandados iniciaram 2020/2021 pressionados, não pela torcida, mas sim para mostrar se poderiam sir fazer jus ao que muitos começaram a considerar: a entrada dos Foxes no Big Six. A verdade é que a Premier League de 2020/2021 e de 2019/2020 foram muito semelhantes para o Leicester City, um começo muito bom e uma queda de rendimento no final.
Entretanto, na FA Cup, o time fez bonito. Ao derrotar o Southampton nas semifinais, os Foxes foram disputar em 15 de maio de 2021 a grande final contra o Chelsea. Com um gol de Tielemans, Brendan Rodgers continuou a dar contornos mágicos a uma história que começou ainda em 2010 com Vinchai.
Leicester City: Um intruso no Big Six
O Leicester City passou a ser um intruso entre os gigantes do futebol inglês. Mesmo com a morte de Vinchai em 2018, logo após uma partida do time, o seu legado permaneceu no King Power Stadium.
Na última janela de transferências, encerrada em 31 de agosto, os Foxes foram fortes ao mercado. Jannik Vestergaard e Ryan Bertrand ex- Southampton, Boubakary Soumaré ex-Lille e Patson Daka ex-RB Salzburg chegaram para somar.
Ainda assim, o time de Rodgers derrotou o Manchester City de Guardiola na Community Shield, a Supercopa da Inglaterra, e levou mais uma taça importante para casa.
Uma equipe que passou por tanto e se transformou nos últimos 10 anos, alguém ainda dúvida do Leicester City como um grande da Inglaterra?