Na era dos ”supertimes”, o Barcelona parece ser modesto, mas longe de ser ruim

Nas últimas décadas, o futebol virou de fato uma indústria, o esporte passou por transformações em suas estruturas mais básicas, os times passaram a ser mais responsáveis de seus próprios rumos do que em qualquer outro momento na história, principalmente pelo fator da criação das ligas nacionais, com o dinheiro dos direitos de transmissão, e de todo o marketing, indo diretamente para os organizadores.

Além disso, outro advento surgiu – ou ficou mais corriqueiro após a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética – os clubes-empresas, como o Chelsea, comprado pelo bilionário russo Roman Abramovich, na década de 2000. Mais tarde, algo maior ainda conseguiu um lugar ao sol, os ”clubes-Estado”, como Paris Saint-Germain, que é controlado pelo governo do Catar, que busca propagandear toda uma nação para o mundo através de seus investimentos no futebol. O Manchester City também é outro exemplo disso, tendo raízes muito fortes com os Emirados Árabes Unidos.

Dentro deste contexto, é que surgem os ”supertimes”. Os clubes tradicionais, que se viram mais aportados por dinheiro, em um primeiro momento, devido à mudança estrutural nas ligas, como o Real Madrid, que logo virou Galáctico, ou o Barcelona, posteriormente do trio MSN, são respostas de um custo altíssimo não só à nível financeiro, mas de identidade, para poderem competir, de igual para igual, com estes ”novos ricos”.

A atual, e insana, janela de transferências da temporada 2021/2022 deixou isso escancarado. Para chegarmos ao ponto que queremos, vamos nos ater ao caso catalão: Quando Lionel Messi saiu do Barcelona, quais clubes poderiam bancar a sua contratação? Somente dois, os já citados acima. E o Barcelona, que não pôde inscrever o argentino por problemas financeiros, só chegou a este nível deplorável por conta de Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu, que usaram o dinheiro do clube indiscriminadamente para, entre outras coisas, se equiparar aos supertimes.

Afinal, por que outro motivo, em 2019, contratar Antoine Griezmann por mais de £100 milhões? Ou pagar em Philippe Coutinho e Ousmane Dembele, juntos, cerca de £265 milhões? Nenhum deles era necessidade do elenco blaugrana em épocas que assinaram contrato, vieram para dar uma resposta à saída de Neymar ao próprio PSG, pela maior bagatela da história. A grife virou forma de colocar panos quentes na má administração de Bartomeu, que a cada ano dava um ”cala a boca” na torcida com grandes nomes.

O atual presidente do Barcelona, Joan Laporta, disse recentemente em entrevista coletiva que a dividia do clube chegou à casa de £1,3 bilhões. Os capitães da equipe, Gerard Piqué, Sergio Busquets, Jordi Alba e Sergi Roberto, inclusive, tiveram que baixar seus salários para que os reforços Eric García, Memphis Depay e, quando estiver saldável, Aguero, entrarem em campo.

No entanto, apesar da situação dramática e do cenário dos supertimes, o time do Barcelona passa uma imagem atual de ser modesto, mas longe de poder ser considerado ruim. Pelo contrário. Essa situação desenfreada de investimentos dos ricos para montarem elencos recheados de estrelas, gera uma visão turva de que somente tendo 11 jogadores World Class, é possível ganhar.

Óbvio, o sarrafo sobe, a meta fica mais difícil de ser alcançada, mas o lindo deste esporte é que ele ainda é vencido por estratégias e não por sacos (infinitos) de dinheiro. O Bayern de Munique, campeão europeu na temporada retrasada, é exemplo disso. Não é um clube em condições de contratar Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar ou Mbappé, mas nem por isso deixa de estar no topo sempre, com seus ótimos nomes.

Olhando o plantel do Barça, inclusive, se encontra ótimos jogadores também. Ter Stegen, Frenkie de Jong, Busquets, Griezmann, Memphis, Pedri, entre outros. É possível conquistar coisas importantes com este nível de time, afinal qualidade aí não é um problema, tudo depende de uma ideia de jogo a ser seguida por Ronald Koeman e de sua solidez.

E, claro, isso depende de Laporta também não fazer nenhuma loucura semelhante as de Bartomeu para tentar se manter no mesmo pedestal que os clubes-Estado, como, por exemplo, entrar e insistir na história da Superliga Europeia. Senão, mais adiante, vai ser mais corriqueiro jogadores como Braithwaite com a camisa azul e grená do que as estrelas atuais.