Depois dos áureos anos iniciais do futebol inglês e um breve retorno nos anos 60 e 70 – que não foram tão empolgantes – Wolverhampton Wanderers, ou apenas Wolves, vivem um momento de afirmação no futebol inglês. Antes uma equipe que vivia trocando divisão temporada após temporada, o clube do distrito metropolitano do condado de West Midlands, na Inglaterra, que fez parte do condado histórico de Staffordshire sonha em participar pela primeira vez em sua história da maior competição de clubes da Europa. E o motivo para acreditar que a realidade pode acontecer, é a sequência de quatro temporadas firmes disputando a elite do campeonato mais rico e mais disputado do mundo.
E não só isso, apesar da 13ª colocação na competição passada, o clube aposta que neste ano pode ser diferente. O início, por ora, é preocupante. Foram três derrotas em três jogos, todas por 1 a 0, porém ainda faltam 35 longas rodadas que vão definir a competição na temporada 2021/22. Antes disso, o Wolves comemorou em seu retorno à elite em dois anos seguidos a sétima colocação, em uma delas a inédita vaga na Liga Europa, com uma eliminação nas quartas de finais do torneio para o bicho-papão Sevilla, da Espanha, que sagrou-se campeão daquela edição.
Mas como o Wolves pretende chegar longe mais uma vez e fazer história? Quais são as grandes credenciais e o que esperar do modesto clube? Um sotaque conhecido por todos nós brasileiros pode dar de vez a tônica para o clube fazer história.
MUITOS ANTES DOS CHINESES, O GRANDE AUGE NA DÉCADA DE 50
A Inglaterra é o grande berço do futebol, então independente do período que não conquiste um título, estar na história do futebol inglês é um feito para qualquer clube. E o Wolves é um desse que já teve seus louros há muitos anos atrás. Foram nas temporadas 53/54, 57/58 e 58/59, batendo esquadrões como Manchester United e Arsenal, que os Wanderers conquistaram seus três títulos ingleses.
Apesar do tempo sem levantar o troféu e distâncias longas da grande elite inglesa, o Wolves gravou seu nome e se tornou sempre um grande alvo para se reerguer e voltar a figurar entre os principais da Terra da Rainha. Daí o interesse vindo lá da China, o grande investidor do futebol mundial ultimamente. A potência asiática viu a história que esse clube oferecia e acreditou que o futuro pode ser grandioso. Com um auxílio lusitano.
A história do Wolves também traz títulos das quatro primeiras divisões, além de quatro Copa da Inglaterra, quatro Supercopa da Inglaterra e duas Copas da Liga Inglesa. Seu título mais recente de elite, foi a Copa da Liga Inglesa na temporada 1979/1980.
GRUPO CHINÊS TURBINA O WOLVES NA CHAMPIONSHIP
Para quem não conhece muito a história do Wolverhampton, é preciso situar como funciona hoje as finanças da equipe que sonha alto e tem como seu principal parceiro ninguém menos do que o empresário Jorge Mendes, considerado um dos maiores do mundo e que toma conta da carreira de quase todo o futebol portugês, além de ninguém menos do que Cristiano Ronaldo. Porém, Mendes é um capítulo à parte dessa situação que vive o Wolves desde julho de 2016.
Naquele ano, o conglomerado chinês Fosun International, com negócios em setores como o industrial, bancário e da moda, adquiriu o clube inglês Wolverhampton Wanderers, com 139 anos de história, por 45 milhões de libras (cerca de 59,7 milhões de euros, na época e atualmente, aproximadamente R$ 322,42 milhões). O antigo proprietário do clube, Steven Morgan e sua empresa Bridgemere Group, entregaram por esse preço 100% das ações do clube. Na época, a empresa também era detentora do Aston Villa, clube de Birmingham, mas acabou repassando a outro bilionário em 2018.
Quem comanda o clube é o chines Jeff Shi, desde 2016. Ele assumiu o clube ficando com a 14ª colocação na Championship e no ano seguinte a mesma posição, até chegada de injeção de nomes oriundos de Portugal, que trouxeram a quarta taça da segunda divisão para os Lobos.
A ENTRADA DO ‘MEGAEMPRESÁRIO’ JORGE MENDES NO WOLVES
O investimento dos chineses no clube, segundo consta em grandes veículos da Inglaterra, está diretamente ligado à influência de Jorge Mendes. Foi ele quem sugeriu ao grupo grupo chinês em 2016, que o tradicional clube inglês estaria disposto a ouvir propostas, algo que efetivamente se concretizou. Além disso, os chineses ainda compraram cerca de 20% da Gestifute, empresa que pertence ao megaempresário português.
E como é normal no futebol do Reino Unido, o investimento em jogadores tem sido constante. E o que não falta são jovens jogadores – ou está já consagrados – portugueses. Entre eles, já estiveram até o goleiro Rui Patrício defendendo as cores amarela e preta. Para treinador, Nuno Espírito Santo foi o grande comandante por quatro temporadas, tirando o Wolves da segundo divisão e levando até a disputa da Liga Europa. Sonhando com voos mais altos, ele não resistiu à péssima temporada 2020/21 em que quase viu de perto o retorno para a Championship.
Estima-se que o Wolves, desde então, já gastou mais de 377 milhões de euros (mais de R$ 2 bilhões) em reforços. Dos gastos em transferências, mais de metade foram em jogadores portugueses agenciados, na sua maioria, por Mendes. Nomes como Rubén Neves, Rui Patrício, João Moutinho e Diogo Jota chegaram ao clube. Jota, inclusive, saiu por mais de 40 milhões de euros para o Liverpool, garantindo uma boa quantia aos cofres dos clube de Wolverhamptom.
INVESTIGAÇÕES NA RELAÇÃO MENDES-WOLVES
No ano do acesso, a temporada 2017/18 os altos investimentos em nomes portugueses e no técnico Nuno Espírito Santo, que era como um braço forte de Jorge Mendes, levantou suspeitas nos chefes da Premier League. Para eles, a relação entre Wolverhampton e Jorge Mendes deveria “ser totalmente exposta durante o processo de regulamentação para aceitar o clube na Premier League”. Os Wolves tiveram que deixar claro – e conseguiram- que não haviam quebrado regras, pois o Fosun afirmava que Mendes era uma espécie de conselheiro da administração e não está efetivamente no comando do futebol dos Wolves.
O regulamento da Football Association, ao qual o Wolverhampton estava submetido também na Championship, determinava que donos de clubes não podem ter participação direta ou interesses no agenciamento de atletas. Como Jorge Mendes não fazia parte da diretoria, a Premier aceitou a inscrição da equipe na elite na temporada 2018/19, quando os Wolves retornaram após seis anos longe, com uma passagem e o título da terceira divisão, na temporada 2013/14.
O QUE ESPERAR ATUALMENTE?
Conforme citado acima, o início dos Wolves na atual temporada não foi nem um pouco animador. As três derrotas em três jogos, já começam a gerar uma suspeita em cima do treinador Bruno Lage, que tem no seu currículo um título português pelo Benfica – que acabou por impedir naquele ano, o retorno de Jorge Jesus ao clube, deixando o caminho livre para o Flamengo ficar com o Mister em 2019. Lage recebeu alguns jogadores indicados por ele para ajudar em uma temporada que eleve novamente o nome do Wolves e – quem sabe – garanta, pelo menos, mais uma vez a Liga Europa da próxima temporada.
O Wolves seguiu a mesma receita na hora de traçar seus reforços: jovens jogadores e como sempre com uma pitada de sotaque português. Entre os nomes está o ponta direita que pertence ao Barcelona, Francisco Trincão, que chega por empréstimo como um dos pilares desse plantel. Para o gol, o português José Sá, que estava no Olympiacos, da Grécia, chegou para assumir o posto do ídolo Rui Patrício, que foi para a Roma, da Itália, a pedido de José Mourinho.
Além dele, o jovem sul-coreano Hwang Hee-Chan, veio do RB Leipzig, da Alemanha. De brasileiro, Willian José que jogou no último ano por empréstimo deixou o clube, mas o veterano zagueiro Marçal continua no plantel. Ao todo, são dez portugueses no elenco. Como efeito de comparação com os ingleses, o Wolves possui apenas seis. Outro destaque, é o espanhol Adama Traoré, que interessa ao Tottenham.
Principal goleador da equipe nos últimos anos, o mexicano Raúl Jimenéz voltou a jogar com sequência, após o grave acidente que sofreu na cabeça, que quase o fez aposentar as chuteiras de forma precoce.
ESQUADRÃO PORTUGUÊS PARA FICAR DE OLHO
E se o elenco possui dez jogadores portugueses, com certeza é preciso ficar de olho em alguns que podem ser destaque. Entre eles o atacante Fábio Silva, de 19 anos, que atuava no Porto, de Portugal. Ele já soma, em duas temporadas, 40 jogos com quatro gols e cinco assistências no clube. Silva, inclusive, foi muito elogiado pelo presidente do clube, o chinês Jeff Shi.
Outro que tem chamado a atenção – com a saída de Diogo Jota – é o camisa 10 Daniel Podence, titular indiscutível e também um dos grandes nomes indicados e agenciados por Jorge Mendes. Nome recente nas últimas convocações de Fernando Santos para Portugal, Pedro Neto é outro que já está nas graças da torcida dos Wolves, com apenas 21 anos, 79 jogos, dez gols e dez assistências pelo clube.
Os jovens Cristian Marques e Bruno Jordão, além dos veteranos Nelson Semedo, Rúben Neves e João Moutinho completam a legião lusitana dos Wanderers. Neves está no clube desde 2017/18, tem 179 jogos, 20 gols e nove assistências, com apenas 24 anos.