Novos investidores, estádios e identidades visuais: a modernização do futebol italiano

Catapultada pelo título da Eurocopa de 2020 (disputada esse ano) o futebol italiano deve voltar a receber maior atenção para o campeonato local. Nada mais justo para um país que se estrutura em diferentes frentes, fora do campo, para chegar a resultados satisfatórios.

Diversas mudanças estruturais fora de campo refletem o crescimento do esporte no país nos últimos anos. Dentre estas estão processos de rebranding, modernização de estádios, investimentos estrangeiros, e formação de novos treinadores.

Rebranding

Nos últimos vários clubes se modernizaram em suas identidades visuais: Cagliari, Juventus, Brescia, Hellas Verona, e mais recentemente, a Internazionale mudaram seus escudos, processo que busca aumentar principalmente as receitas comerciais.

Em comunicado divulgado pelo clube, a Inter demonstrou esta preocupação:

“A Inter renova sua identidade visual para se abrir a um público cada vez mais digital e com consciência estética, para atingir alvos globais e diferentes faixas etárias, para se firmar como ícone cultural e também esportivo . O objetivo é tornar a marca Inter relevante e reconhecível não só pelos torcedores, mas também permitir que um público mais jovem e internacional se identifique com os valores de inclusão, estilo e inovação que caracterizam o Inter desde a sua fundação”.

Atenção para “se firmar como ícone cultural e também esportivo”, algo que sua rival, a Juventus faz muito bem desde a mudança de escudo realizada em 2017. A equipe de Turim se planejou para extrapolar as barreiras esportivas e se posicionar também como uma marca de moda (publicação abaixo).

Modernização de estádios

Poucos clubes italianos possuem estádios próprios que em sua maioria, são de poder público (em 2019, de acordo com relatório da Deloitte, representavam 70% das arenas da Serie A, porcentagem muito maior se considerássemos as três primeiras divisões: 92%). Rivais, muitas vezes sediam suas partidas no mesmo local, como o caso de Roma e Lazio com o Estádio Olímpico de Roma, e de Inter e Milan, que compartilham o San Siro.

Além disto diversas instalações são consideradas defasadas, quando comparadas com as outras quatro grandes ligas europeias. Entre 2000 e 2020, as equipes da Bundesliga, por exemplo, construíram 11 novos estádios, bem mais que a Serie A com apenas três.

Os dois fatos (poucos clubes com estádios particulares e defasagem dos atuais) representam uma perda de receita potencial. As infraestruturas, camarotes, hospedagem e realização de outros eventos, que poderiam fazer os clubes faturarem mais, são prejudicados porque os estádios não foram projetados considerando estes novos fatores (os estádio da Primeira Divisão foram construídos, em média, há 56 anos)

Por isso, no momento diversos clubes italianos já possuem projetos em andamento para modernização/construção de seus estádios. O Cagliari por exemplo, construirá o Cagliari Arena para abrigar 25 mil pessoas, com direito à hotel, spa, ginásios e outros espaços esportivos, além de abrigar o museu e a loja oficial do clube (veja o vídeo abaixo):

Não surpreende muito que clubes da primeira divisão ou que a frequentaram recentemente tenham projetos deste tipo, como também é o caso de Bologna, Pama e Empoli. A novidade porém, é que Ternana (Serie B), Avellino (Serie C) e Rimini (Serie D) também já têm projetos avançados nesta linha.

Em especial, a proposta do novo estádio do Avellino (vídeo abaixo), que já foi apresentada à prefeitura, deve custar entre 50-60 milhões de euros, para abrigar 21,5 mil pessoas. O estádio deve contar com dois telões interativos em sua parte externa, além de restaurante panorâmico, lojas e museu do clube. A infraestrutura tem como objetivo ser enquadrada como categoria 4 pela UEFA, a maior avaliação possível, àquela que permite sediar a final da Liga dos Campeões, por exemplo.

Investimento estrangeiro

Não coincidentemente duas das equipes com projetos para construir ou reformar seus estádios, são controladas por investidores estrangeiros, algo cada vez mais comum na Itália (tema inclusive já abordado por aqui em texto de Cesar Grafietti). Na última temporada, por exemplo, seis dos vinte clubes da Serie A eram controlados por norte-americanos: Roma, Milan, Fiorentina, Bologna, Spezia e Parma. Mais recentemente, o grupo de outro estadunidense, Joe Tacopina, que já atuou diretamente na Roma e Bologna, obteve um acerto preliminar para adquirir o SPAL, da segunda divisão (veja mais na publicação abaixo).

A crise econômica causada pela pandemia de coronavírus parece ser um fator que fez os clubes serem mais suscetíveis a investidores externos que projetam ganhos futuros. Além da modernização dos estádios (e seu consequente aumento de bilheteria, entre outras contas) os proprietários também esperam um aumento de arrecadação dos direitos televisivos, principalmente para fora do país.

Em março deste ano, a companhia de streaming DAZN venceu a concorrência da Sky Itália ao assegurar os direitos televisivos da Serie A em transmissões nacionais por € 2.5 bilhões entre os anos de 2021 e 2024.

Em 2019 também foi aprovado no país o “Decreto de Crescimento” (leia mais aqui)que reduzia em até 90% a alíquota do Imposto de Renda para atletas estrangeiros, mais um fator que atrai investidores já que a liga se tornou economicamente mais atraente à diversos jogadores.

Jovens treinadores

Algo mais diretamente ligado ao jogo, a formação de treinadores, também parece sofrer um “boom” com a formação dada pela Federação Italiana. No ano passado, por exemplo, foi ministrado um curso apenas para ex-jogadores que estudaram para tirar o certificado da Licença A da UEFA (que dá o direito de treinar equipes juvenis e até a Série C, e serem registrados como auxiliares em equipes de Primeira e Segunda Divisão). Neste curso estiveram presentes alguns nomes conhecidos como Christian Vieri, Daniele De Rossi e Alessandro Del Piero.

Recentemente outros ex-jogadores, como o caso de Andrea Pirlo e Thiago Motta também estudaram na Federação, mas desta vez para tirar a Licença PRO, essa sim, que permite treinar equipes da Serie A. As teses de conclusão de curso, inclusive, foram disponibilizadas ao público, veja aqui. Enquanto o primeiro foi sacado da Juventus ao final da temporada, Thiago Motta que já teve uma breve experiência no Genoa, iniciará a temporada 2021/22 como comandante do Spezia.

Como resultado, a Primeira Divisão do Campeonato Italiano começará com uma média de idade para treinadores, de 52,4 anos. Sete dos vinte clubes terão comandantes com menos de 50 anos (Venezia, Spezia, Sassuolo, Fiorentina, Sampdoria, Torino e Internazionale).