Atenção! Ser organizado e bem administrado pode não ser bom negócio no Brasil. Estranho, né? Piadas à parte, é assim que o Flamengo é tratado no futebol brasileiro. O Flamengo e qualquer instituição séria e que investe forte para ter protagonismo. Triste realidade de um país que não valoriza quem faz a coisa certa.
Ironicamente, quem se organiza e investe pesado, é prejudicado no futebol brasileiro. Enquanto no mundo todo não há futebol nacional nas “Datas Fifa”, aqui o “couro come” e os clubes que se lasquem, porque o “show tem que continuar”. E quem deveria se preocupar e valorizar as competições nacionais, parece dar de ombros e só ter olhos para a Seleção Brasileira.
O ano é 2021, mas o assunto é antigo. A CBF sempre foi o principal rival de seus próprios campeonatos. Paradoxal ou não, é a própria entidade que não corrige um erro histórico e segue inflando seu calendário, prejudicando quem investe forte em grandes jogadores e, por tabela, não permitindo que o mercado interno se desenvolva de maneira correta, o que acaba respingando também em sua Seleção.
Gabigol, que tem APENAS 121 participações em gols em 125 jogos pelo Flamengo, vai para a Seleção Brasileira passear e treinar, com o clube pagando os salários e jogando desfalcado de seu principal goleador. É um escárnio!
— Pablo dos Anjos (@PabloWSC) August 13, 2021
Outrora motivo de orgulho para clubes e torcida, ter um jogador convocado passou a ser um tormento. Hoje, causa revolta e indignação. Em condições normais, ter um atleta convocado deveria ser motivo de curtição para os torcedores. O orgulho de ser convocado segue intacto para os atletas, claro. Mas e os clubes? Não me parece justo quem paga altos salários ser obrigado a ceder seus atletas, com competições importantes em andamento. Quem paga essa conta? E o desequilíbrio técnico?
Não se trata de choro. É uma simples e ingrata constatação. Ter bons times e grandes jogadores, invariavelmente, significa ser mutilado a cada convocação. Mas, e a CBF? O que diz a maior entidade do futebol brasileiro a respeito? Nada! Nem uma vírgula a respeito. E mais: experimente se insurgir contra o sistema…
Em termos práticos, a cada convocação o Flamengo é esfacelado. E não adianta “cuspir marimbondo” contra os técnicos das seleções. A culpa não é deles. A culpa também não é da Seleção Brasileira. A culpa é do calendário. De um cronograma insano de jogos por temporada, que massacra os atletas e sufoca as datas para os jogos, o que torna inviável que sejamos minimamente evoluídos a ponto de parar as competições nas tais “Datas Fifa”. Mas então, de quem é a culpa? Preciso mesmo responder?
Inegavelmente, o calendário brasileiro não é compatível com um futebol profissional e de alto nível. Não há time bem estruturado capaz de suportar a maratona de jogos e convocações que a CBF impõe aos clubes. E quanto mais atletas de alto nível no elenco, maiores as perdas. Ou seja: por mais estapafúrdio que seja, às vezes, não contar com atletas selecionáveis pode ser uma saída para sobreviver à covardia imposta no futebol brasileiro.
Enquanto o calendário jogar contra seus próprios times, será cada vez mais improvável enxergar protagonismo da Seleção Brasileira. Um produto interno forte e bem organizado pode ser a chave para o Brasil voltar a ser um país vencedor dentro das quatro linhas. De uma tacada só, a CBF trataria seus afiliados da maneira correta e teria campeonatos ainda mais fortes e capazes de ceder bons valores à Seleção. Custa fazer o certo?
Vale lembrar que a CBF comunicou que fará ajustes no calendário para evitar conflitos com jogos da Seleção.
Veja a relação de jogadores convocados:
Goleiros: Alisson (Liverpool), Ederson (Manchester City) e Weverton (Palmeiras);
Zagueiros: Thiago Silva (Chelsea), Marquinhos (PSG), Éder Militão (Real Madrid), Lucas Veríssimo (Benfica);
Laterais: Danilo (Juventus), Alex Sandro (Juventus), Guilherme Arana (Atlético-MG), e Daniel Alves (São Paulo);
Meio-campistas: Bruno Guimarães (Lyon), Casemiro (Real Madrid), Fabinho (Liverpool), Fred (Manchester United), Claudinho (Zenit), Éverton Ribeiro (Flamengo), Lucas Paquetá (Lyon);
Atacantes: Neymar (PSG), Firmino (Liverpool), Matheus Cunha (Hertha Berlin), Raphinha (Leeds), Gabriel Jesus (Manchester City), Richarlison (Everton), Gabigol (Flamengo).