Hamilton x Verstappen: polêmica vai para fora da pista

Polêmica como há muito não se via o Mundial de Fórmula 1. Esse foi o saldo no GP da Grã-Bretanha, décima etapa da temporada, em Silverstone. A disputa acirrada entre os dois candidatos ao título de 2021 na primeira volta acabou com um toque entre a Mercedes de Lewis Hamilton e a Red Bull de Max Verstappen na curva Copse. Com o holandês levando a pior, já que bateu forte na barreira de proteção. E o inglês vencedor pela oitava vez em casa, mesmo depois de cumprir punição de 10 segundos. Os comissários da prova o consideraram responsável pelo incidente, ainda que para boa parte do Circo tenha se tratado de um fato comum de corrida.

Foi o capítulo mais marcante de uma rivalidade que, até agora, se dava à distância, de acordo com as estratégias e o rendimento dos carros das duas equipes. Com retrospecto de respeito aos adversários, Hamilton viu uma possibilidade de superar nos primeiros metros um adversário que, este ano, tem feito melhor, ajudado pela eficiência da Red Bull Honda. Nenhum dos dois cedeu na tomada da veloz curva à direita. O que fez lembrar outras disputas históricas com desfecho parecido – Ayrton Senna contra Alain Prost e Nigel Mansell; Michael Schumacher contra Damon Hill e Jacques Villeneuve, para ficar em alguns exemplos.

Reação

No calor do GP, no entanto, a reação do comando da Red Bull se mostrou exagerada. O team principal Christian Horner chegou a afirmar ao diretor de prova Michael Masi (pelo rádio) que não há como ultrapassar na Copse. E sugeriu que o heptacampeão mundial teria jogado sujo, embora as imagens mostrem que nenhum dos pilotos modificou sua linha fora do normal. E o próprio Verstappen pesou a mão em sua avaliação. Falou nas redes sociais em ‘comportamento anti-desportivo’ do rival, e condenou a comemoração de Hamilton num momento em que ainda passava por exames em um hospital. Exames que, felizmente, nada constataram de mais sério.

Um caldo que acabou levando a manifestações racistas e de ódio endereçadas ao britânico. Que, também nas redes sociais, ainda no domingo, desejou pronta recuperação ao holandês e reforçou não ser um piloto de condução perigosa. Imediatamente a Mercedes; a FIA e a F-1 se pronunciaram em conjunto, com uma nota que condenou os ataques e pediu a responsabilização criminal de seus autores. Os pilotos, por meio de sua associação (GPDA) e as demais equipes (inclusive a Red Bull) também se manifestaram em solidariedade a Hamilton.

Perigos

O episódio traz à tona dois perigos para o futuro da categoria. Um deles, mais aparente, é o de transformação da F-1 em mais um palco de manifestações de ódio, quando a própria categoria aposta na inclusão e na diversidade. O outro é desestimular as brigas roda a roda e transformar duelos antes normais em lances condenáveis. Justamente no momento em que foi mostrado pela primeira vez o visual dos novos carros para 2022. Projetados para favorecer as ultrapassagens e aumentar as disputas na pista.