O Flamengo não vive um bom momento na temporada. Os resultados em campo começam a minar a confiança do torcedor e, por consequência, do grupo. Mas, de quem é a culpa? Existe um vilão? Qual o tamanho da responsabilidade de Rogério Ceni nessa queda de rendimento? Sei que são muitas perguntas, mas vamos tentar encontrar algumas respostas.
Apontado como melhor elenco do país por muitos especialistas, e atual bicampeão brasileiro, é nítido que o time caiu de produção. E isso não está em discussão. Contra fatos não há argumentos, ainda que existam várias atenuantes para relativizar essa afirmação, como desfalques, lesões, falta de público, inexperiência do comandante, queda técnica dos principais atletas, falta de reforços, entre outros motivos. Pontos de sobra para encontrar as razões do Flamengo ter perdido parte de seu protagonismo dentro de campo.
Rogério Ceni fala sobre pressão no Flamengo: “Compreendo todas as críticas. Faço o melhor que posso”https://t.co/8IDPdYaOub
— Cahê Mota (@cahemota) July 8, 2021
Ainda que você relute em admitir, a CBF esfacelou o Flamengo. Seja na Copa América, seja nos amistosos da seleção olímpica, não há time no mundo capaz de perder, de uma só vez, seus principais articuladores, e se manter favorito, praticando um bom futebol. Com o Flamengo não seria diferente, ainda que a equipe tenha conseguido, por um determinado momento, manter seu padrão de jogo, mesmo com importantes desfalques, como Isla, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Pedro e Gabigol.
E é aí que entra o ponto mais sensível da discussão envolvendo a queda de rendimento do Flamengo: Rogério Ceni. Para muitos, o “grande vilão” da atual fase rubro-negra. Para outros, parte da engrenagem, que perdeu um pouco da sua graxa. Ceni perde sozinho? Qual o tamanho da responsabilidade dos jogadores? E da Diretoria? Jogar tudo na conta do técnico é mais fácil, né?
Outro dia, entre uma live e outra, um amigo fez o seguinte comentário: “é melhor tirar logo esse técnico. Caso contrário, a gente corre o risco de ser eliminado na Copa do Brasil e na Libertadores”. Li, reli e refleti. Qual a garantia que teríamos de avançar nas competições, em caso de demissão do Ceni? Existe algum tipo de certeza de melhora de desempenho no aspecto tático do time, ou seria apenas um mero desejo de trocar?
Cada um é dono da sua verdade e tem suas próprias convicções. Eu, obviamente, tenho as minhas. E, pra mim, o Flamengo de Rogério Ceni tem sim um padrão de jogo. É um time que tem vocação ofensiva, cria boas oportunidades, costuma controlar os adversários e está entre os bons times do Campeonato Brasileiro, no que diz respeito a desempenho técnico e tático. Mas então o que justifica os resultados não se refletirem nos placares?
Futebol não é uma ciência exata. Nunca foi e nunca será. Analisar o esporte sob a ótica resultadista costuma nos cegar. O Flamengo de Rogério Ceni é falho, tem limitações, mas está longe de ser terra arrasada. Cria diversas chances claras de gol, mas as desperdiça na mesma medida. Colocando na balança, ainda vejo mais pontos positivos do que negativos. Agora, tudo isso não me isenta de apontar graves problemas que enxergo no trabalho de Ceni. A começar pelo seu passado tricolor. Em tese, não deveria ser um obstáculo, mas obviamente incomoda os torcedores, desde o dia em que foi anunciado. Apontado por jogadores e especialistas como um ótimo técnico de treinos, com metodologia moderna e vasto conhecimento, Rogério Ceni ainda peca quando a bola rola.
A diretoria do #Flamengo está sofrendo pressão de conselheiros que apoiam Rodolfo Landim para demitir Ceni. A ideia, no entanto, é manter o treinador. Há o entendimento que o time tem margem para evoluir com o retorno dos principais jogadoreshttps://t.co/WbLFFLm6bb
— Raisa Simplicio (@simpraisa) July 8, 2021
Invariavelmente, o Flamengo é um time que propõe o jogo, que gosta de ficar com a bola e que, em linhas gerais, cria ótimas jogadas de ataque. Mas, quando não consegue marcar os gols, deflagra as fragilidades do seu comandante. Ceni pode ter ótimos conceitos e gerenciar excelentes sessões de treinamentos, mas tem péssima leitura de jogo, faz substituições ruins e, quando não consegue as vitórias, acaba minando sua relação com a imprensa e a torcida, ao dar entrevistas desconexas com a realidade, fugindo da responsabilidade natural de um comandante e, por vezes, com pitadas de arrogância e ironia.
E essa é uma receita caseira para o fracasso. Ser um bom técnico abrange uma série de valências. Um bom treinador também precisa ser um ótimo gestor de pessoas, sejam elas jogadores, imprensa ou torcedores. Independentemente de ter um belo futuro pela frente, Rogério Ceni ainda está cru para o Flamengo. O patamar alcançado pelo Flamengo pede um comandante mais capaz, em âmbito geral.
O que acha do trabalho de Rogério Ceni?
❤ BOM!
🔁 RUIM! pic.twitter.com/FJvCiApV3u— SportsCenter Brasil (@SportsCenterBR) July 8, 2021
Você deve estar imaginando que sou a favor da demissão do Ceni, uma vez que o considero pequeno ainda para o tamanho do Flamengo, certo? Seria, se existisse opção à altura para uma substituição imediata. Hoje, com duas competições mata-mata batendo à porta e a certeza de que o Flamengo não tem bala na agulha para ir atrás de um técnico europeu que atenda às expectativas que esse elenco precisa, não posso apoiar uma demissão, sem compromisso com o processo.
Se, de fato, a Diretoria do Flamengo identificou uma ruptura na relação entre técnico e elenco, aí sim mudo de opinião e passo a acreditar ser o momento oportuno para uma troca, desde que feita com inteligência. Na hora que o calo aperta, ninguém costuma analisar o contexto geral. Logo clamam pela troca de técnico, como se fosse uma receita garantida de sucesso. Não entro nessa. Ainda mais sem substituto à altura.
Você manteria Rogério Ceni no comando do Flamengo?
❤ SIM!
🔃 NÃO!#FutebolNaESPN pic.twitter.com/EfIZly2eA2— ESPN Brasil (@ESPNBrasil) July 8, 2021
Rogério Ceni ainda precisa se provar um treinador mais flexível, menos teimoso e capaz de criar alternativas, não se atendo apenas a uma estrutura de jogo. Acima de tudo, ele precisa entender o tamanho do Flamengo. Que comandar uma instituição dessa magnitude implica em receber pressões diárias. Os “sapos” do dia a dia precisam ser engolidos com inteligência e resiliência, sob pena dele ajudar a esquentar o próprio óleo que frita sua permanência no Flamengo. Ah, e só pra finalizar: Renato Gaúcho? Não, muito obrigado!