Inicialmente, uma pergunta: quantos goleiros africanos já se destacaram no futebol europeu? O futebol reserva grandes histórias, e com apenas uma temporada no Chelsea, o goleiro senegalês Édouard Mendy construiu uma narrativa que será lembrada para sempre.
Depois de quase abandonar o futebol, o goleiro abraçou a última chance e se destacou a ponto de receber a indicação de Petr Cech para resolver o problema que existia em um dos grandes clubes do futebol mundial.
Antes do Chelsea
Em 2015, Édouard Mendy que ainda jogava por ligas amadoras na França, quase desistiu do futebol em busca de outro emprego em tempo integral. Na época, o goleiro tinha 23 anos, e conseguiu um contrato com o Marseille, para jogar pelo time B.
Desta forma, se destacou o suficiente para chamar a atenção do Reims, que o contratou a custo zero em julho de 2016. Pelo clube, ficou por três temporadas e ajudou a equipe a subir da segunda para a primeira divisão francesa.
Em seguida, foi contatado pelo Rennes, que desembolsou cerca de 9 milhões de Euros para contar com o goleiro. A passagem durou uma temporada e foi bem-sucedida, com direito a classificação para a UEFA Champions League. Ao todo, foram 33 jogos, 31 gols sofridos e 13 clean sheets (jogos sem sofrer gols).
Por isso, chamou a atenção do ex-goleiro, e agora diretor do Chelsea, Petr Cech. Curiosamente, o ídolo dos Blues também foi contratado junto ao Rennes, em 2004.
Necessidade de se provar
Primeiramente, o contexto para a chegada de Édouard Mendy era tratado como “circunstancial”. Depois de uma temporada ruim, o goleiro Kepa Arrizabalaga não tinha mais a confiança do treinador, diretoria e boa parte dos torcedores do Chelsea.
Porém, depois de uma janela movimentada, os Blues não conseguiriam bancar uma contratação cara para o gol, como foi o caso do próprio Kepa em 2018. Desta forma, Mendy foi contratado por 25 milhões de Euros em setembro de 2020.
Desta forma, chegar a um grande clube para resolver um problema, com 28 anos e apenas duas temporadas na primeira divisão do campeonato francês, parecia uma missão complicada para o goleiro.
Inclusive, discutia-se a contratação como um ‘tapa-buraco’ para que o clube pudesse investir com mais força em outro goleiro na próxima temporada.
Entretanto, o desafio pessoal de Mendy ia além de se estabelecer no Chelsea, ele pensava em todo um continente.
“Há muitos jogadores africanos na Premier League, mas poucos são goleiros. Cabe a mim, como goleiro africano, mostrar o que posso fazer, e talvez mudar a mentalidade das pessoas”.
Impacto imediato e evolução
Desde o início no Chelsea, Édouard Mendy conseguiu tomar conta da posição. Além da confiança, que faltava ao gol do Chelsea, o goleiro entregou qualidades essenciais, como reflexo, posicionamento e saída em bolas altas. Em seguida, demonstrou evolução com a bola nos pés, algo cada vez mais cobrado para goleiros.
Em números, foram 25 clean sheets em 44 jogos. Ou seja, o goleiro saiu sem sofrer gols em 56% das partidas que disputou pelo Chelsea na temporada. No clube, apenas Petr Cech conseguiu completar temporadas com números melhores: em 2004-05 (28 em 48 jogos) e 2008-09 (26 em 54 jogos).
Inclusive, Édouard Mendy falou sobre a influência de Cech em seu jogo:
“Temos perfis bastante semelhantes. Os pequenos movimentos que lhe permitem ganhar meio segundo para se levantar ou recuperar uma bola aérea, seus conselhos são muito úteis para mim e aprendo muito com ele. Ele é muito importante para mim”.
Finalmente, considerando apenas a Premier League, Édouard Mendy fez 31 partidas, defendeu um pênalti e 70% das finalizações (1.8 defesa por jogo), além de 100% de acerto na saída do gol em bolas aéreas.
Sobre o jogo com os pés, Mendy saiu jogando com bolas curtas em 79% das vezes – o maior índice da Premier League. Em média, é acionado 36.2 vezes e faz 2.5 passes sob pressão por jogo. Entretanto, seu índice de acertos é bom: 92% em passes curtos e 44% em bolas longas.
“Eu tive que me adaptar ao que o clube me pediu. Pedem-me para jogar curto, para ser um jogador envolvido na construção quando tivermos a bola”.
No grande palco
De todo o elenco do Chelsea, apenas Édouard Mendy nunca havia disputado uma UEFA Champions League. Porém, mais uma vez, o goleiro não teve problemas com a novidade.
Na competição, Mendy foi peça chave da conquista dos Blues, anotando nove clean sheets em 12 jogos e sofrendo apenas três gols. Além disso, defendeu 31 dos 34 chutes que sofreu (91,2%).
Desta forma, Mendy foi o primeiro goleiro a conseguir nove clean sheets em uma temporada de estreia nesta competição, e esteve entre os jogadores do elenco ideal do torneio.
Herói de seu povo
Finalmente, Édouard Mendy conseguiu o que queria. Ao ser o primeiro goleiro africano a jogar a final e vencer uma UEFA Champions League, o senegalês trouxe respeito e admiração para um jogador da posição nascido no continente, conforme havia colocado como meta desde que chegou ao Chelsea.
Portanto, ao final da temporada para clubes, o goleiro foi recebido com carinho em seu país natal, que certamente se orgulha e se lembrará para sempre da história e dos feitos de Édouard Osoque Mendy, que parece saltar etapas em sua carreira, que ainda está longe de terminar.
SIX clean sheets in a row for Edouard Mendy! 🧤⛔️ pic.twitter.com/TZsulmOEfv
— Chelsea FC (@ChelseaFC) November 5, 2020