Premiações no futebol: a diferença entre Brasil e Itália

Com o final das competições nacionais na Europa, temos não apenas os campeões definidos, mas também a classificação final e as classificações para as ligas continentais.

Na temporada que vem teremos além da Champions League (UCL) e da Europa League, a nova Conference League, que será uma competição de entrada e que dará oportunidade a mais ligas e clubes disputarem uma competição internacional, aumentando receitas com participação e premiação, mas também permitindo aos vencedores “subir de competição” no ano seguinte. Atualmente o vencedor da Europa League garante vaga para a UCL do ano seguinte, e o vencedor da Conference garantirá vaga na Europa League da próxima temporada.

Portanto, terminar bem colocado garante não apenas uma premiação direta na competição, como um dinheiro extra pela presença nas competições continentais, assim como é na América do Sul para os clubes que participam da Libertadores e da Sulamericana.

Nesta coluna trarei algumas comparações entre as premiações da Série A Brasileira e da Seria A Italiana, como referência de disparidade de valores e o quanto isso impacta em competitividade entre os clubes.

No Brasil o conceito de premiação por desempenho na Série A é recente, e veio com a alteração no modelo de distribuição de valores referentes a direitos de transmissão. Uma parte dos valores referentes a TV Aberta e Fechada pagos pela Globo (30% do total) é repartida conforme o desempenho na competição, de forma que os 16 primeiros recebem valores enquanto os 4 rebaixados à Série B ficam sem esta parcela. Há uma questão a ser ponderada, pois alguns clubes possuem contrato na TV Fechada com a Turner, e não entram totalmente nessa divisão, possuindo forma diferente de remuneração.

Para fins de exercício usaremos os valores usualmente divulgados pela imprensa, como faz por exemplo o jornalista Cassio Zirpoli, de onde busquei a informação abaixo. Este é um dos problemas do modelo descentralizado de negociação de direitos de transmissão. Enquanto nos modelos de negociação da competição há centralização de valores e distribuição estruturada, como é o caso da Itália, no Brasil há essas distorções.

 

A premiação vai além da simples colocação, e incluímos no exercício os valores de cotas da Libertadores mínimos para quem vai à fase de grupos da competição. Quem entra nas fases anteriores tem cotas adicionais, e consideramos que todos chegam à fase de grupos.

Veja que ir à Libertadores dá aos clubes uma grande vantagem financeira apenas pela premiação mínima da fase de grupos, sem contar bilheteria.

Mesmo a presença na Sulamericana já garante um valor adicional, e se os clubes souberem fazer um bom planejamento e incentivo aos torcedores, pode gerar mais dinheiro com público.

Agora pensando na premiação da Seria A Tim, a competição nacional italiana, temos a seguinte distribuição, em milhões de euros:

A distância também é grande, mas no caso dos que se classificam para a UCL é maior que a distância na Libertadores, pois na partida há uma diferenciação pela posição final, diferente das cotas por partida da competição sulamericana.

E aqui temos apenas a cota de entrada, chamada Market Pool, pois cada clube recebe valores por vitória, empate e evolução na competição, além de premiações adicionais pelo ranking geral da UEFA. Na atual temporada teremos Juventus (€ 29,9 MM), Milan (€ 16,6 MM), Inter (€ 15,5 MM) e Atalanta (€ 2,2 MM).

Outro exemplo: vencer a Conference League deve render cerca de € 20 milhões, enquanto a Europa League rende cerca de € 25 milhões. Na UCL a Atalanta recebeu € 40 milhões na atual temporada, ao chegar às 8ªs de final.

E como podemos comparar esses valores? Aliás, são comparáveis de alguma forma?

Sim, e primeiro faremos uma comparação direta:

O exercício de comparação mais direto é a conversão de um dos valores. Optei aqui por converter os valores em euros para reais, para dar uma dimensão mais próxima da realidade brasileira.

Obviamente a distância fica imensa, fazendo com que o valor recebido pelo campeão brasileiro seja equivalente ao 9º colocado da Seria A italiana.

Natural isso. E comparações como esta são apenas uma parte da análise, pois dado o câmbio atual qualquer euro vale quase 7 vezes um real.

De qualquer forma, mostra um pouco da nossa dificuldade quando se fala em competição financeira com a Europa, seja por questões econômicas, seja por questões mercadológicas. Afinal, interesse na UCL é muito superior ao da Libertadores.

Alguém pode dizer “Ah, a economia italiana não é assim tão mais potente que a brasileira. Por que tanta diferença?”. Ainda que não seja tão mais potente, nem tão mais diversificada, a economia italiana é maior que a brasileira. Além disso, opera em euros, com suporte da União Europeia, o que lhe permite trabalhar numa relação Dívida/PIB superior à nossa. Outro aspecto é o da renda, pois na Itália a renda média é da ordem de € 1.800 (R$ 12 mil aproximadamente), enquanto a renda média brasileira é da ordem de R$ 1.500, sempre em bases mensais.

Mas há outra forma de comparar as premiações das competições, que é fazendo uma proporção desses valores com as receitas médias dos clubes, o que depende da receita de cada clube. Não é preciso, mas também serve como referência.

Enquanto o valor de campeão brasileiro representa algo como 8,3% para o Flamengo, num ano como 2020/21, ou seja, sem público nos estádios, para a Inter Milano representa perto de 14,0%, nas mesmas condições. Em anos “normais” (com público), o valor representa 6,5% para o Flamengo e 10,4% para a Inter.

Note que há grande diferença quando tratamos de proporção e representatividade, pelo menos para os campeões. Por isso a classificação à UCL é uma disputa à parte, e que na Itália foi até a última rodada, com o Napoli deixando escapar a vaga, que ficou com a Juventus, após um empate em casa contra o Hellas Verona.

Seguindo o exercício, para a Atalanta (3ª colocada na atual temporada), e que tem receitas na casa dos € 200 milhões quando incluímos negociação de atletas, o valor representaria algo com 11%. Se tomarmos o Atlético Mineiro, 3º colocado no último Brasileirão, a proporção é da ordem de 21%, considerando receitas médias dos últimos 3 anos na casa dos R$ 220 milhões.

No final, estas diferenças ajudam a explicar vários temas, da disparidade de receitas e força financeira entre europeus e brasileiros, ao interesse de investidores em comprar clubes nas diferentes regiões. A possibilidade de retornos é muito maior na Europa que no Brasil. Não significa que é mais fácil, mas o potencial é maior, considerando preços semelhantes.

Ainda há o que evoluir no Brasil. Mas é preciso evoluir.