Com o final das competições nacionais na Europa, temos não apenas os campeões definidos, mas também a classificação final e as classificações para as ligas continentais.
Na temporada que vem teremos além da Champions League (UCL) e da Europa League, a nova Conference League, que será uma competição de entrada e que dará oportunidade a mais ligas e clubes disputarem uma competição internacional, aumentando receitas com participação e premiação, mas também permitindo aos vencedores “subir de competição” no ano seguinte. Atualmente o vencedor da Europa League garante vaga para a UCL do ano seguinte, e o vencedor da Conference garantirá vaga na Europa League da próxima temporada.
Coluna falando de como os campeonatos nacionais europeus estão longe de serem desprezados. https://t.co/jCJxhqQnUr
— Cesar Grafietti (@cesargrafietti) May 12, 2021
Portanto, terminar bem colocado garante não apenas uma premiação direta na competição, como um dinheiro extra pela presença nas competições continentais, assim como é na América do Sul para os clubes que participam da Libertadores e da Sulamericana.
Nesta coluna trarei algumas comparações entre as premiações da Série A Brasileira e da Seria A Italiana, como referência de disparidade de valores e o quanto isso impacta em competitividade entre os clubes.
No Brasil o conceito de premiação por desempenho na Série A é recente, e veio com a alteração no modelo de distribuição de valores referentes a direitos de transmissão. Uma parte dos valores referentes a TV Aberta e Fechada pagos pela Globo (30% do total) é repartida conforme o desempenho na competição, de forma que os 16 primeiros recebem valores enquanto os 4 rebaixados à Série B ficam sem esta parcela. Há uma questão a ser ponderada, pois alguns clubes possuem contrato na TV Fechada com a Turner, e não entram totalmente nessa divisão, possuindo forma diferente de remuneração.
Para fins de exercício usaremos os valores usualmente divulgados pela imprensa, como faz por exemplo o jornalista Cassio Zirpoli, de onde busquei a informação abaixo. Este é um dos problemas do modelo descentralizado de negociação de direitos de transmissão. Enquanto nos modelos de negociação da competição há centralização de valores e distribuição estruturada, como é o caso da Itália, no Brasil há essas distorções.
A premiação vai além da simples colocação, e incluímos no exercício os valores de cotas da Libertadores mínimos para quem vai à fase de grupos da competição. Quem entra nas fases anteriores tem cotas adicionais, e consideramos que todos chegam à fase de grupos.
Veja que ir à Libertadores dá aos clubes uma grande vantagem financeira apenas pela premiação mínima da fase de grupos, sem contar bilheteria.
Mesmo a presença na Sulamericana já garante um valor adicional, e se os clubes souberem fazer um bom planejamento e incentivo aos torcedores, pode gerar mais dinheiro com público.
Agora pensando na premiação da Seria A Tim, a competição nacional italiana, temos a seguinte distribuição, em milhões de euros:
A distância também é grande, mas no caso dos que se classificam para a UCL é maior que a distância na Libertadores, pois na partida há uma diferenciação pela posição final, diferente das cotas por partida da competição sulamericana.
E aqui temos apenas a cota de entrada, chamada Market Pool, pois cada clube recebe valores por vitória, empate e evolução na competição, além de premiações adicionais pelo ranking geral da UEFA. Na atual temporada teremos Juventus (€ 29,9 MM), Milan (€ 16,6 MM), Inter (€ 15,5 MM) e Atalanta (€ 2,2 MM).
Outro exemplo: vencer a Conference League deve render cerca de € 20 milhões, enquanto a Europa League rende cerca de € 25 milhões. Na UCL a Atalanta recebeu € 40 milhões na atual temporada, ao chegar às 8ªs de final.
E como podemos comparar esses valores? Aliás, são comparáveis de alguma forma?
Sim, e primeiro faremos uma comparação direta:
O exercício de comparação mais direto é a conversão de um dos valores. Optei aqui por converter os valores em euros para reais, para dar uma dimensão mais próxima da realidade brasileira.
Obviamente a distância fica imensa, fazendo com que o valor recebido pelo campeão brasileiro seja equivalente ao 9º colocado da Seria A italiana.
Natural isso. E comparações como esta são apenas uma parte da análise, pois dado o câmbio atual qualquer euro vale quase 7 vezes um real.
De qualquer forma, mostra um pouco da nossa dificuldade quando se fala em competição financeira com a Europa, seja por questões econômicas, seja por questões mercadológicas. Afinal, interesse na UCL é muito superior ao da Libertadores.
Alguém pode dizer “Ah, a economia italiana não é assim tão mais potente que a brasileira. Por que tanta diferença?”. Ainda que não seja tão mais potente, nem tão mais diversificada, a economia italiana é maior que a brasileira. Além disso, opera em euros, com suporte da União Europeia, o que lhe permite trabalhar numa relação Dívida/PIB superior à nossa. Outro aspecto é o da renda, pois na Itália a renda média é da ordem de € 1.800 (R$ 12 mil aproximadamente), enquanto a renda média brasileira é da ordem de R$ 1.500, sempre em bases mensais.
Mas há outra forma de comparar as premiações das competições, que é fazendo uma proporção desses valores com as receitas médias dos clubes, o que depende da receita de cada clube. Não é preciso, mas também serve como referência.
Enquanto o valor de campeão brasileiro representa algo como 8,3% para o Flamengo, num ano como 2020/21, ou seja, sem público nos estádios, para a Inter Milano representa perto de 14,0%, nas mesmas condições. Em anos “normais” (com público), o valor representa 6,5% para o Flamengo e 10,4% para a Inter.
Note que há grande diferença quando tratamos de proporção e representatividade, pelo menos para os campeões. Por isso a classificação à UCL é uma disputa à parte, e que na Itália foi até a última rodada, com o Napoli deixando escapar a vaga, que ficou com a Juventus, após um empate em casa contra o Hellas Verona.
Seguindo o exercício, para a Atalanta (3ª colocada na atual temporada), e que tem receitas na casa dos € 200 milhões quando incluímos negociação de atletas, o valor representaria algo com 11%. Se tomarmos o Atlético Mineiro, 3º colocado no último Brasileirão, a proporção é da ordem de 21%, considerando receitas médias dos últimos 3 anos na casa dos R$ 220 milhões.
No final, estas diferenças ajudam a explicar vários temas, da disparidade de receitas e força financeira entre europeus e brasileiros, ao interesse de investidores em comprar clubes nas diferentes regiões. A possibilidade de retornos é muito maior na Europa que no Brasil. Não significa que é mais fácil, mas o potencial é maior, considerando preços semelhantes.
Ainda há o que evoluir no Brasil. Mas é preciso evoluir.