Toda equipe que disputa competições de alto nível, como a Série A italiana, obtém seu sucesso através de suas ideias de jogo e da maneira como essas ideias são operacionalizadas e transmitidas ao gramado. Mesmo brigando contra o rebaixamento nas últimas rodadas, o Torino de Davide Nicola mantém uma média boa de gols sofridos na competição (56 no dia 03/05/2021), semelhante a algumas equipes que brigam na parte superior da tabela, ilustrando a qualidade defensiva da equipe para seu nível competitivo.
Davide Nicola estruturou seu sistema defensivo adotando uma abordagem que mistura referências espaciais com individuais, mais conhecida como marcação individual por setor, que consiste na criação de encaixes no adversário apenas quando ele penetra a zona de marcação do defensor, ou seja, o bloco defensivo protege o espaço até o momento em que um adversário infiltra. O sistema escolhido para por essa ideia em prática foi o 5-3-2, com dois alas, três zagueiros, três médios e dois atacantes, variando muito em altura dependendo do adversário ou do momento da partida.
Esse tipo de marcação, assim como qualquer outro, gera vantagens e desvantagens inerentes à forma de enxergar o jogo. Uma das maiores desvantagens é o fato de sua organização defensiva depender muito do posicionamento dos adversários, na medida em que promove encaixes diretos individualizados, o que facilita a manipulação através das distâncias, posicionamento e trajetórias dos atletas da equipe com bola. Entretanto cabe ao treinador criar mecanismos que suavizem as desvantagens e permitam que a equipe se torne verdadeiramente competitiva.
Uma das maneiras encontradas pelo técnico para equilibrar essa questão é o modo de atuação do trio de zagueiros da equipe. Para cobrir os espaços que surgem entre as linhas de marcação, causados normalmente pela manipulação dos encaixes dos médios, o técnico estruturou uma linha defensiva muito veloz, inteligente e competitiva nos duelos pelo chão e pelo ar. A regra de ação é clara: Os zagueiros devem sair de sua posição e abordar o adversário diretamente quando a bola entra no espaço entre os setores.
Os zagueiros são frequentemente vistos saltando sobre os atacantes assim que o passe é desenhado, possibilitando que o defensor antecipe o futuro receptor da bola e realize a interceptação de passes de ruptura. Quando a interceptação não for possível a tarefa do zagueiro é condicionar a maneira como o atacante irá receber a bola, para que o domínio seja o pior possível, para que ele fique de costas para a baliza ou seja forçado a jogar para trás, impedindo a progressão da jogada e a criação de uma situação de gol.
Dessa forma o time consegue proteger com qualidade seus espaços Inter setoriais em corredor central, o que normalmente condiciona o adversário a atacar pelas laterais, jogando por fora do bloco defensivo. Entretanto o posicionamento, coordenação e altura dos defensores, gera uma vantagem qualitativa para os touros quando defendem bolas aéreas, ou seja, a equipe normalmente tem mais qualidade que o adversário para disputar esse tipo de lance.
Quando a equipe sobe seu bloco defensivo e se propõem a marcar a saída de bola adversária, os zagueiros também cumprem um papel fundamental, na medida em que os alas costumam subir mais para pressionar, principalmente quando a bola está em seu corredor. Os defensores centrais são responsáveis por proteger as costas do bloco e evitar que o adversário saia na cara do gol através de uma bola longa, mas ainda devem dividir sua atenção com possíveis passes para dentro da zona, que devem ser antecipados ou condicionados.
Destacam-se nessa função o italiano Armando Izzo, o camaronês Nicolas N’Koulou e os brasileiros Gleison Bremer e Lyanco, futebolistas altos, velozes e inteligentes, que atuam de forma contundente em botes ou protegendo os espaços que surgem nas costas da última linha quando a equipe sobe seu bloco de marcação, mostrando discernimento no momento e na forma de quebrar a linha defensiva e combatividade nos duelos.
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— Torino FC English (@TorinoFC1906_En) May 3, 2021