Fiorentina sub-19 leva tri seguido da Coppa Italia

Pelo terceiro ano consecutivo, o troféu permanece em Florença! Na última quarta (28), no Estádio Ennio Tardini, em Parma, a Fiorentina venceu a Lazio por 2 a 1 e repetiu as campanhas de 2019 e 2020 na Coppa Italia Primavera . De quebra, faturou o sexto troféu da competição em sua história (1979-80, 1995-96, 2010-11, 2018-19, 2019-20 e 2020-21). O atacante Samuele Spalluto foi o autor de ambos os gols da Viola.

O treinador da equipe é o ex-jogador da Fiorentina, Alberto Aquilani. Curiosamente, ele estreou no cargo na final da Coppa Italia do ano passado, diante do Verona, ocasião em que também faturou a taça. Da mesma forma, o presidente da Viola, Rocco Commisso, celebrou o segundo título de qualquer categoria do clube sob sua gestão.

Em um ano difícil para a equipe profissional da Fiorentina, a conquista do título pelos juvenis pode, então, ser um alento para o futuro. No entanto, a campanha do time sub-19 no torneio de pontos corridos (o ‘Campionato Primavera’) é ruim, a ponto do risco de rebaixamento ser real. Diante dessa realidade caótica, fica difícil prever o futuro dos jovens jogadores da equipe.

Da mesma forma, a Fiorentina faturou a taça da Coppa Italia nos dois anos anteriores, mas os triunfos neste torneios de base parecem não refletir de forma tão impactante no elenco profissional. Afinal, onde está todo o talento jovem da Viola?

Torneio de tiro curto

Primeiramente, para quem não sabe, Primavera é a designação italiana utilizada para se referir às equipes sub-19 do futebol italiano. A Coppa Italia da categoria funciona de maneira semelhante a do torneio de mesmo nome entre os profissionais. A edição de 2020-21 aceita somente jogadores nascidos a partir de 1º de janeiro de 2002, com exceção de cinco atletas com data de nascimento ao longo de 2001 – ou seja, aos 20 anos de idade.

A Primavera Tim Cup, como também é denominada por conta do patrocinador, foi criada oficialmente em 1972 e é disputada atualmente por 40 clubes. Oito desses times já entram direto na fase oitavas de final – são eles, o atual campeão do torneio e os sete melhores colocados no ‘Campionato Primavera’ da edição anterior.

Por conta disso, a Fiorentina começou diretamente das oitavas em seus últimos três títulos. Trata-se de uma competição de tiro curto. Principalmente nesta temporada 2020-21, na qual a fase semifinal, geralmente disputada em duas partidas, foi decidida em jogo único. Ou seja, para vencer o tricampeonato consecutivo, a Viola precisou ganhar quatro jogos.

Em 2019-20, foram necessários cinco jogos. Na temporada anterior, seis (a final também era jogada em duas partidas). Portanto, estamos falando de um campeonato que não valoriza a regularidade. Ele premia, então, o poder de decisão e o fator mental de lidar com duelos eliminatórios. Até aí, sem problema algum.

Queda de rendimento

A questão é que nas últimas duas temporadas a Fiorentina Primavera fez campanhas decepcionantes no campeonato nacional. Após um 5º lugar em 2018-19, alcançou somente a 11ª colocação na temporada seguinte. Neste ano, então, a situação piorou. O time está em 12º, a apenas dois pontos do Bologna, que neste momento jogaria um playoff para escapar do rebaixamento contra a 14ª colocada, Lazio.

Lembrando que o campeonato tem 16 times. No momento, restam dez rodadas para a conclusão do torneio, que teve o calendário bastante impactado por conta da terceira onda de Covid-19 na Itália. Dessa forma, o término da competição está programado para junho. Ou seja, muitos pontos ainda estão em disputa, o que pode ser bom ou ruim, dependendo do contexto da tabela.

Agora, se levarmos em consideração apenas as atuações da Fiorentina na Coppa Italia, ela estaria brigando no topo. É, portanto, inexplicável o fenômeno que toma conta desse time. Já são 12 confrontos eliminatórios em sequência sem derrota – entre 2018 e 2021. Por que a esquadra Viola não consegue manter o mesmo ritmo nos jogos de pontos corridos? Essa é a pergunta que vale 1 milhão de dólares…

A campanha do tri

Curiosamente, o caminho da Fiorentina até a final da Coppa Italia Primavera de 2020-21 reservou os mesmo adversários que a campanha passada. Só a ordem foi diferente. Dessa vez, o Milan acabou derrotado nas oitavas. Na fase seguinte, clássico contra a Juventus, que pouco tempo antes havia despachado a Viola por 3 a 0.

Contudo, no duelo da Coppa, melhor para o time de Aquilani. Vitória por 3 a 1 e classificação para a semi contra o Genoa, que também habita o meio da tabela do campeonato italiano. Sem dificuldades, a Viola triunfou por 2 a 0. Na decisão, a Lazio, que despachou o Verona (finalista da temporada passada). 

A Lazio é a 14ª colocada no ‘Campionato Primavera’ e, portanto, está na zona de playoffs de rebaixamento. Ou seja, outro time mal das pernas no torneio por pontos corridos. Vai entender…

No 1º tempo da final, a Fiorentina foi superior. Mais acostumada à pressão, imprimiu velocidade e marcou bem. Nervosa, a Lazio concedeu inúmeras oportunidades. Duas delas entraram. Em ambas, quem marcou foi o centroavante Samuele Spalluto. Com o doblete, ele chegou a seis gols em quatro jogos na Coppa Italia – artilheiro do time e da competição.

Só que os biancocelesti voltaram para a 2ª etapa jogando melhor. A Fiorentina sofreu. Parecia não esperar pela reação da adversária. Enfim, a vantagem foi reduzida para 2 a 1 com um gol de falta. E, por muito pouco, o empate não veio: teve bola tirada em cima da linha, desarme na cara do gol, blitz, chuveirinho…

Se defendendo como pôde, a Viola gastou tempo. No apito final, comemoração efusiva. Apesar do 1 a 0 na final passada, contra o Verona, a vitória nunca esteve em risco como na quarta-feira. Contando com mais sorte que juízo, a Fiorentina ergueu a taça.

Onde estão os antigos campeões?

Na decisão desta quarta-feira (27), diante da Lazio, a Fiorentina levou a campo seis jogadores que atuaram na final da temporada passada: os titulares Dutu (zagueiro), Bianco, Milani e Pierozzi (meias) e Spalluto (atacante). Além de Krastev (meia), que entrou no decorrer da partida.

Um time experiente, mas que perdeu alguns bons nomes para essa temporada. Brancolini (goleiro) e Ponsi (lateral) foram integrados à equipe profissional. O arqueiro, inclusive, jogou cinco minutos contra o Bologna, na temporada passada, em um jogo que já estava ganho. No entanto, a “lista” de jogadores aproveitados pelo próprio clube para por aí.

No mais, a Fiorentina optou por emprestar diversos atletas campeões da Coppa Italia nos últimos três anos. Dalle Mura, Beloko, Koffi, Pierozzi (irmão do outro Pierozzi atualmente no elenco da Viola), Simonti, Ghidotti… todos esses foram cedidos por empréstimo a pequenas equipes italianas sem sequer uma chance na equipe profissional do clube de Firenze.

Na relação ainda há outros jovens talentos: Gabriele Gori, Diks, Terzic, Zurkowski. No total, a Fiorentina tem 20 jogadores com menos de 24 anos emprestados. Isso sem contar Federico Chiesa, de 23, e que tecnicamente está emprestado à Juventus com obrigação de compra por parte da equipe de Turim.

A safra vencedora dos últimos anos está por aí… espalhada pelo futebol italiano (e em alguns casos até times de fora). Porém, se voltarmos para a temporada 2018-19, vamos encontrar dois nomes importantes que ainda se mantém no clube roxo. Falo deles agora.

É preciso dar espaço

O primeiro deles é Dusan Vlahovic. O cara do momento na Fiorentina, artilheiro isolado da temporada e cogitado em diversas equipes europeias já. O jovem, de 21 anos, foi campeão com o time Primavera há menos de dois anos. Após o título, acabou integrado à equipe principal onde demorou a despontar. Algo corriqueiro, afinal, trata-se de um processo gradativo.

Não foi fácil para Vlahovic chegar ao patamar atual. Precisou de um longo tempo de adaptação antes de começar a dar resultados. O sérvio não é um craque de bola, mas atravessa excelente fase – e tão importante quanto: conhece bem o clube e a cidade e, até mesmo por isso, recebe muito carinho da torcida. O torcedor em Florença adora defender as crias da casa.

Vlahovic é a prova de que é possível conceder espaço para os garotos da base. Isso, claro, desde que seja feito da maneira adequada. Sem queimar ninguém, obviamente.

Seguindo esta linha de raciocínio, o outro nome que chamo a atenção é o de Tòfol Montiel. Esse garoto espanhol foi campeão junto com Vlahovic e subiu com o sérvio para o profissional. No entanto, não ganhou uma sequência mesmo mostrando bons atributos – em cinco minutos, num duelo desta temporada contra a Udinese, fez o gol e classificou a Fiorentina para as oitavas de final da Coppa Italia. Afinal, por que Montiel não joga?

Creio que a situação conturbada do clube, dentro e fora de campo, esteja freando as chances para a garotada neste atual momento. Bernardeschi, Chiesa, Castrovilli e até mesmo Riccardo Sottil: todos esses são atletas formados na base, mas de uma geração anterior. Contudo, todos tiveram suas chances na equipe principal.

A fase não ajuda

A Fiorentina não deixou de lapidar talentos, e os títulos da Coppa Italia Primavera estão aí para nos mostrar. No entanto, a introdução dos jovens na equipe profissional diminuiu de intensidade. Hoje, temos menos destes garotos vestindo a camisa do time profissional. Ou seja, a estratégia é emprestar para evoluir. Mas como saber se o processo deu certo sem testar?

Por fim, deixo claro que eu entendo todas as barreiras. Evidentemente, um Federico Chiesa não surge todo dia. Da mesma forma, a fase atual do time também é perigosa e exige mais certezas do que testes. E a Fiorentina Primavera talvez esteja diante de uma safra um pouco menos virtuosa. Então, tudo isso deve ser considerado. Mas, certamente, existem nomes que merecem atenção.

Samuele Spalluto, herói do tricampeonato, terá chances na Viola? E Eduard Dutu, zagueiro capitão das duas últimas conquistas? Além de alguns outros que mostram virtudes.

A Fiorentina fez um péssimo mercado no início e meio desta temporada. Isso porque Apostou em veteranos, majoritariamente, e se livrou de jogadores que poderiam ser úteis na metade do caminho. Para completar, contratou um atacante que, inexplicavelmente, está machucado desde que chegou (leia-se: Kokorin). Sendo assim, por que não olhar com mais carinho para a base?

Não será possível resolver todos os problemas do clube fazendo isso. Mas, ao menos, me parece um começo bastante razoável para a reconstrução de um time que vive em frangalhos dentro de campo há pelo menos um par de anos.