Scudetto simboliza volta por cima de Conte na Inter

Antonio Conte está próximo de conquistar o título italiano com a Inter de Milão. O treinador de 51 anos viveu altos e baixos, foi eliminado na Champions League, mas conseguiu dar a volta por cima na temporada. Em meio a estágios completamente diferentes da equipe, Conte se envolveu em polêmicas com a própria diretoria da Inter, com Christian Eriksen e até mesmo com o presidente da Juventus, Andrea Agnelli.

Sempre acompanhado de seu temperamento explosivo, o técnico foi capaz de corrigir os problemas defensivos dos nerazzurri e implementar um sistema de jogo bastante fuído. O resultado está na tabela. Ou seja, com 79 pontos, a Internazionale já pode garantir o 19º Scudetto de sua históriana próxima rodada – para isso, precisa vencer o Crotone e contar com derrota da Atalanta para o Sassuolo.

Na opinião de Antonio Conte, “a Inter tem 95% de chances de vencer o troféu”. Restam, portanto, 5% que ainda precisam ser conquistados nas últimas rodadas. Uma tarefa que provavelmente será cumprida. Resta saber quando…

O que está em jogo?

Para Conte, o provável título com a Inter representará sua quarta conquista nacional. Sendo assim, essa marca o coloca em um grupo seleto de treinadores vitoriosos na Itália. Somente cinco deles tem quatro ou mais troféus da 1ª divisão do país:

Giovanni Trapattoni: 7
Massimiliano Allegri: 6
Marcello Lippi: 5
Fabio Capello: 4
Carlo Carcano: 4

Além disso, Conte também se tornaria apenas o segundo treinador na história a vencer Scudettos com Inter e Juventus – o outro é o recordista na lista acima, Giovanni Trapattoni. Aliás, o atual comandante dos nerazzurri também persegue seu segundo título conquistado com mais de duas rodadas para o término do campeonato. O outro foi com a Vecchia Signora, na temporada 2012-13.

Por fim, Antonio Conte defende um retrospecto incrível no banco da Inter. Ele é o treinador com o melhor aproveitamento entre todos que já comandaram a equipe de Milão em, ao menos, 25 partidas. Conte possui 48 triunfos, 17 empates e apenas seis derrotas em 71 jogos. Ou seja, um aproveitamento de vitórias na casa dos 68% – à frente de nomes como José Mourinho e Roberto Mancini.

Mas não foi sempre assim…

Ao olharmos para este final de temporada da Inter, é difícil entender como este mesmo time foi eliminado na fase de grupos da Champions League. E pior: ficando em último na chave, sem sequer uma vaga na Europa League, atrás de Real Madrid, Shakhtar Donetsk e Borussia Monchengladbach.

Para Antonio Conte, o vexame na principal competição de clubes do mundo poderia ter lhe custado o cargo na Inter. Vale lembrar que, na temporada passada, a equipe perdeu para o Sevilla na final da Liga Europa. Durante esse período, algumas declarações do próprio Conte deram a entender que o clima não era muito amigável entre ele e a diretoria. No entanto, o técnico permaneceu.

Posteriormente, o proprietário da Inter de Milão, Steven Zhang, tratou de colocar panos quentes na conversa. O chinês afirmou, então, que confiava no trabalho do técnico e garantiu sua continuidade. Contudo, ninguém esperava por um resultado tão ruim na Champions. Ainda assim, Conte ficou. Muito por conta das restrições financeiras da Inter. Ter de pagar a alta rescisão do técnico em meio a pandemia? Melhor não…

O jeito, então, foi engolir a eliminação a seco e recomeçar o trabalho.

Mudança de rota

A partir daí, a Internazionale evoluiu demais na temporada. Evidentemente, o respiro no calendário, proporcionado pela queda precoce na Champions, acabou ajudando. Focado somente na Serie A, Conte conseguiu corrigir algums deficiências do time. A começar pela defesa. Foram treze gols sofridos nos primeiros oito jogos do campeonato. Contra Benevento e Fiorentina, a Inter venceu, é verdade. Mas a inconsistência lá atrás custou tropeços contra Lazio, Milan e Parma.

Para se ter uma ideia da evolução, de lá para cá, em 25 jogos, a Inter sofreu apenas 16 gols. Ou seja, uma mudança da água para o vinho! E que tem muito a ver com a postura tática do time, que passou a abdicar um pouco mais da bola e atuar em transição. Mais cautelosa e fechando melhor os espaços existentes no sistema 3-5-2, os nerazzurri resolveram o problema defensivo – e de quebra potencializaram o dinamismo do ataque.

Fora das quatro linhas, de certa forma, Conte também promoveu alterações. Ele, enfim, descartou qualquer briga com o meio-campista Christian Eriksen. O ex-jogador do Tottenham era visto como mal aproveitado pelo treinador italiano, que também não parecia ter muita paciência com o jogador. No entanto, Antonio Conte colocou um fim nas especulações e descartou a saída do dinamarquês.

Aos poucos, Eriksen parece ter encontrado melhor os caminhos do campo sob o comando do italiano. Apesar disso, ainda não chegou ao ápice apresentado no time londrino. De qualquer forma, se trata de mais uma virtude do professor da Inter nesta atual temporada.

Sempre polêmico…

Mas, como sabemos, Antonio Conte sempre será Antonio Conte. Isso ficou claro na partida válida pela semifinal da Coppa Italia entre Juventus e Inter, em fevereiro, quando o técnico mostrou o dedo do meio para o presidente da Vecchia Signora, Andrea Agnelli – o mesmo que esteve envolvido na criação da polêmica Superliga Europeia.

Vale lembrar que Conte é um ídolo histórico da torcida juventina, tanto como jogador, quanto como técnico. Porém, a relação com Agnelli, o mandatário da Juve desde 2010 não parece ser nada amistosa. Aquele clássico terminou em 0 a 0 e significou a clasificação da Vecchia Signora para a decisão do torneio. Apesar de ficar pelo caminho na Coppa Italia, a Inter tem mais motivos para comemorar.

Certamente, no duelo Conte x Agnelli, o treinador sai vitorioso nesta temporada. Além de, provavelmente, faturar o 19º Scudetto da Inter, ainda interromperá a sequência de nove conquistas da rival de Turim. Do outro lado, Cristiano Ronaldo e companhia lutam apenas por uma vaga na Champions League. Já o próprio Agnelli está extremamente pressionado em seu cargo após o fiasco da Superliga.

Energias renovadas

Podemos dizer, então, que a atual temporada de Antonio Conte no comando da Inter foi do inferno… ao céu. Afinal, o treinador iniciou a trajetória no olho do furacão. Além de amargurar o vice da Liga Europa no ano passado, ainda lidava com inúmeras críticas de torcedores – tanto ao seu esquema de jogo, quanto à personalidade difícil. Para piorar, veio a eliminação na Champions League.

No fim das contas, poder se concentar na disputa nacional ajudou Conte. Vendo o rival Milan despencar, a Internazionale não pestanejou, assumiu a ponta e abriu vantagem. E com um estilo de jogo agradável e bem encaixado. Agora, o técnico renegado provavelmente encerrará a seca do clube de 11 anos sem título. Obviamente, esta conquista renova as energias do lado azul de Milão.

Ainda existem incertezas quanto ao futuro financeiro da Inter, é verdade. Por outro lado, quanto ao cargo de treinador, não devem pairar muitas dúvidas. Antonio Conte terá uma nova chance na temporada que vem de melhorar o desempenho em cenário europeu. Mas isso ainda está distante. Por enquanto, o treinador ainda precisa se concentrar em garantir a taça nacional. Dessa forma, estará tranquilo como nunca desde que assumiu a Inter em 2019.

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