Confira com exclusividade a opinião de alguns colegas do jornalismo brasileiro sobre a criação da Superliga.
Andre Henning (TNT Sports)
Um grande fiasco. No meio de tantas ideias legais e necessárias, atropelaram e esqueceram do mais importante: o lado esportivo”.
Guilherme Guimarães (UOL)
A tentativa de criação da Superliga da forma como foi feita, por imposição e pelo lobby dos clubes envolvidos em tal tentativa foi um fracasso. O futebol, por mais que passe por inúmeras mudanças e evoluções, carrega consigo características fortes do tradicionalismo, demonstrado pela união de esforços de torcedores e outros setores da sociedade contrários ao movimento de segregação tentado por alguns dirigentes que se acharam maiores que o próprio esporte. Sim, o futebol precisa passar por modernizações, mas dentro de uma política democrática para tais mudanças, e não por imposição quase ditatorial.
Bruno Vicari (ESPN)
A minha visão é que acho que a Superliga meteu um pouco o pé pelas mãos, ela se adiantou muito em ser uma coisa muito, não sei se autoritária, mas de repente entrou com o pé na porta. Essa ideia de se fechar em um clube, não ter o rebaixamento, foi o que assustou muitos torcedores, porque todo mundo sabe que essa não é a ideia do futebol, nunca foi e não é, por mais que exista evolução, por mais que exista uma questão financeira muito grande envolvida, você não pode deixar de valorizar o mérito esportivo, então acho que esse foi o grande erro e isso que assustou todo mundo e por isso deu uma repercussão muito grande negativa. Por outro lado, não acho ruim quando os clubes param para pensar que eles também precisam se movimentar e perceber que o futebol está perdendo atenção dos mais jovens para outras atividades. Então, acho que não é não rebaixando equipes e formando um pequeno grupo que você vai combater isso, mas não acho ruim a ideia dos clubes imaginarem uma forma de tornar suas competições mais atrativas para as novas gerações, porque hoje é difícil você ver um jovem que para 90 minutos e fica totalmente ligado em um jogo de futebol, claro, para a gente que gosta de futebol pode parecer absurdo, mas existe muita gente que não tem esse costume e acho que essa pode ser uma preocupação para os clubes. Ao mesmo tempo acho que as rivalidades ou as competições locais estão se tornando um pouco desinteressantes para os grandes clubes, então é mais ou menos um processo que eu vejo como aconteceu no Brasil, os clubes foram formados com rivalidades estaduais e aos poucos isso foi extrapolando e hoje os clubes têm mais interesse em disputar, por exemplo, o Campeonato Brasileiro do que o Estadual. Acho que em médio prazo, talvez, isso também aconteça na Europa, por mais que as ligas continuem fortes, as grandes equipes vão ter mais interesse de medir força com as grandes equipes dos outros países em competições continentais do que jogar internamente as competições.
Acho que a prova disso é não só essa movimentação dos clubes, mas também a resposta da Uefa em ter uma Champions com mais datas, com mais confrontos. Acho que é o que mostra um pouco isso, a competição europeia vai se tornar mais importante e não vai ser mais um bônus, mas acabará sendo mais atrativa para os times e torcedores do que as competições locais.
Sergio Arenillas (Globo)
Pra vários momentos e circunstâncias da vida resumo alguma experiência à questão: esse discurso é inclusivo ou excludente? A ruptura golpista proposta pelos 12 envolvidos deixou bem clara a resposta. Desde o anúncio, arrogante, escondido e prepotente ficou claro o elitismo inacessível e sem critério. A tentativa de tomar uma grandeza atual como algo de direito. Estou fora.
É fácil ao contar bilhões esquecer das origens. Arsenal e United e suas origens operárias. A Inter e seu projeto inclusivo e internacional. Barcelona e Atlético, fundados, na ordem, por um imigrante e alguns estudantes. Formaram parte um dia da base real do esporte hoje. O solo do futebol tem muito mais batatas que trufas negras. E todos merecem desfrutar das mesmas oportunidades, dos desenvolvimentos, dos sonhos e frustrações.
Grandes revoluções são gestadas. Golpes que prezam pelo unilateralismo, por rupturas abruptas. Clubes gananciosos tentaram banalizar o efêmero e aumentar ainda mais os lucros às custas de clubes pequenos. Como eles foram um dia. A motivação era se libertar da tirania da UEFA. Sendo tiranos?
A implosão da Superliga foi um sopro de esperança. Especialmente na Inglaterra com os torcedores tomando a linha de frente. Clubes se apequenaram ao tentar usar esse recorte seletivo, uma fotografia atual de um esporte feito de ciclos, para perpetuar relevância. Narizes empinados viram o pote de ouro no horizonte. Só esqueceram de olhar o chão que andam. A redenção de um golpe está sempre na reparação. Que faltem buracos para tanta vergonha.
Ubiratan Leal (ESPN)
A Superliga não rolou, acho que ela não tinha que rolar, mais uma coisa inevitável. Os grandes clubes do futebol europeu vão acabar se organizando para tornar a Champions League ou o que é que venha a entrar no lugar da Champions League um super mega torneio. Acho que há movimentação para isso e há desejo por isso, o problema maior é que eu acho que a Superliga tentou isso da forma errada, criando um clubinho da elite, puxando o tapete de todo o resto do futebol europeu, daí não rolou. Mas eu acho que a tendência é essa, que a Champions League mude de caráter. Agora, a Uefa propôs outro regulamento, eu não gostei dele, eu até quando ouvi falar pela primeira vez vi algumas coisas que eu estava entendendo, mas depois de vê-lo como ficou, eu acho que eles pioraram, mas é inevitável que busquem. A questão é fazer isso de forma que não destrua a estrutura do futebol, que não seja uma coisa feita só para uma dúzia de clubes ricos e que se dane o resto, então tem que ser alguma coisa que tenha um sentido técnico, que tenha sentido dentro de uma pirâmide em que tenha clubes formando uma base e vai afunilando na medida do tempo para chegar no topo dessa pirâmide, que são as competições mas importantes. Tem que ter todo um trajeto ali e acho que isso que a Superliga tentou passar por cima. Acho que ela foi feita da forma mais caricata possível, anunciar o lançamento quando eles não tinham um projeto claramente pronto, deu para perceber que alguns clubes aceitaram meio na pressa com medo de serem passados para trás, mas eles próprios não tinham uma convicção tão grande do que estavam fazendo, e por causa disso até pularam fora com uma facilidade. Por isso os clubes que se apresentaram acabaram fazendo esse papelão de manchar sua imagem diante do público e dos próprios torcedores, voltaram para trás e ainda correm o risco de perder força política dentro da Uefa e dentro das entidades, porque agora o PSG e o Bayern de Munique pretendem ficar muito fortes como dois clubes que certamente estavam nos planos da Superliga e não quiseram entrar, dois clubes que possuem todos os indicativos do que seriam membros da Superliga. Eles poderiam ser e não quiseram ser, então acho que os clubes vão ficar um tempinho parados, mas essa coisa de negociar Champions ainda vai rolar mais coisa, creio que esse formato que a Uefa acabou anunciando ontem é capaz de mudarem ele, de repente, em um formato que percebam que não vai criar uma coisa de grande de jogos sem tanto interesse, mas eu acho que vai, então vai acabar mudando, mas eu acho que vai acabar tendo um desenvolvimento nisso, nem que acabe afetando inclusive as próprias ligas nacionais, por exemplo, de diminuir um pouco a quantidade de jogos, ou alguma coisa assim. Por exemplo, copas da liga, de repente, deixam de existir onde ainda existem, as copas nacionais onde tem jogo de ida e volta virem só jogo de ida, algumas coisas assim é capaz de darem uma enxugadinha, darem uma reformulada nas datas FIFA para sobrar um pouco mais de data para, de repente, fazer essa Champions League maior e que tenha mais potencial econômico, mas provavelmente dentro de uma estrutura do futebol e não como uma coisa que tente puxar o tapete dessa estrutura como a Superliga tentou.