A promessa é de que iria mudar o futebol. E até salvá-lo. Mas, em cerca de 48 horas, a tão polêmica Superliga Europeia amargou um fracasso retumbante. Não demorou nada para que a ideia fosse extremamente mal recebida pelas torcidas dos próprios times envolvidos. Após pouco tempo, os clubes foram, um a um, anunciando suas retiradas do projeto, deixando Real Madrid e Barcelona sozinhos.
Se não bastasse o fracasso da ideia, ela ainda rendeu a renúcia de alguns dirigentes. Quem não saiu está pressionado, e a relação com UEFA e FIFA ficou estremecida. Não se sabe ainda o que acontecerá no futuro com relação às equipes, em termos de sansões, e tampouco com a própria Superliga. Mesmo com clubes como a Juventus afirmando que a proposta ainda não morreu, fato é que ela está, por ora, hibernando.
O Liverpool Football Club confirma: nosso envolvimento nos planos propostos para formar uma Superliga Europeia foi descontinuado.
— Liverpool FC Brasil (@LFCBrasil) April 20, 2021
Relembrando o início
No domingo (18), 12 dos principais clubes europeus oficializaram algo que há algum tempo já era especulado: a criação de um torneio independente da UEFA, que substituiria a Champions League como principal competição do continente. Baseado em cifras, a Superliga Europeia não teria rebaixamento, sendo sempre jogada por 20 equipes, em datas durante a semana (assim como a atual Champions).
Arsenal, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Atlético de Madrid, Chelsea, Tottenham, Inter de Milão, Milan, Juventus, Real Madrid e Barcelona foram os fundadores. Essas doze equipes ainda aguardavam mais três integrantes fixos, além das cinco vagas restantes rotativas. Falamos mais sobre as motivações para a criação da Superliga aqui mesmo no MondoSportivo Brasil.
De imediato, a UEFA, na figura de seu presidente Aleksander Čeferin, ameaçou punir os clubes dissidentes. A FIFA e ligas locais também reprovaram a ideia mirabolante e foram acompanhados por torcedores no mundo todo. Inclusive das próprias equipes envolvidas na fundação do torneio.
Na segunda-feira, dia (19), a UEFA se reuniu e aprovou o novo formato da Champions League, válido a partir da temporada 2024-25. A reunião foi regada a várias críticas direcionadas aos clubes da Superliga. Até então, os 12 times se mantinham firmes em suas posições. Cada um, inclusive, emitiu comunicados oficiais confirmando a adesão a Superliga. Os post sofreram enxurradas de críticas nas redes sociais.
O começo do fim
Diante de uma repercussão tão negativa, na terça-feira (20), começaram a surgir boatos de que as equipes fundadoras da Superliga Europeia, com receio do fracasso, estavam cogitando abandonar o projeto. A partir daí, a sucessão dos fatos se deu de forma muito rápida. Ainda neste dia 20, todos os seis clubes ingleses abandonaram a empreitada de uma vez só. O primeiro a anunciar tal atitude foi o Manchester City, que afirmou ter iniciado os procedimentos burocráticos para deixar o “grupo seleto”.
Nota oficial.
🔷 #MCFCPortugues | https://t.co/JIQNttxQCnhttps://t.co/KBKAaZXsgw
— Manchester City (@ManCityPT) April 20, 2021
Imediatamente, Manchester United, Arsenal, Liverpool e Tottenham seguiram o mesmo caminho. O último a desistir foi o Chelsea, para alegria de mais de mil torcedores da equipe londrina que foram protestar nas ruas contra a adesão à Superliga. E as manifestações não foram exclusivas dos Blues: em Liverpool, fãs dos Reds também ficaram indignados. Talvez até MAIS revoltados, principalmente pelo fato do clube ter origens operárias.
Deixando de lado sua essência, a entrada do Liverpool na Superliga seria a “morte” do time para sua torcida. Algo pesado demais para que os próprios dirigentes não reconsiderassem a decisão. Como foi feito.
Com a desistência de METADE dos clubes fundadores (os seis ingleses), ficou difícil para o restante se manter firme diante do caos. O Atlético de Madrid também anunciou sua retirada do projeto com uma nota oficial bastante fria. Essa foi a tônica das respostas. Poucos pedidos de desculpas e apenas um comunicado básico à torcida, sem grandes satisfações. Na Itália, Milan e Inter (a última, já nesta quarta-feira, dia 21) pularam fora do barco.
O final, de fato
Após as diversas desistências, chegou a vez da Juventus, de Andrea Agnelli, um dos principais articuladores da Superliga, também largar mão. O próprio presidente da Vecchia Signora afirmou nesta quarta, em entrevista à Reuters, que a Superliga amargou seu fracasso. Abaixo, as palavras de Agnelli:
“Sigo convencido da beleza deste projeto, do valor que ele poderia gerar à pirâmide e de que seria o melhor torneio do mundo. Mas evidentemente não, não posso dizer que segue de pé” – Andrea Agnelli, presidente da Juventus
Comunicado sobre o projeto da Super League. https://t.co/lFqsj8Fexa pic.twitter.com/9AfLWfzWYl
— JuventusFC (@juventusfcpt) April 21, 2021
O presidente da Juventus, que havia se retirado da UEFA para se dedicar ao novo torneio, está altamente pressionado. É possível até que ele deixe o cargo na equipe italiana por conta da implosão do torneio.
Quem não ficou apenas no boato e renunciou, de fato, ao cargo foi Ed Woodward, vice-presidente do Manchester United desde 2012. O clube alega que a saída do cartola já estava planejada, mas será antecipada para o final de 2021. Certamente, um reflexo do estardalhaço gerado pela Superliga.
Restam dois
Real Madrid e Barcelona ainda não pularam do navio naufragado. Mas, diante da velocidade com que as notícias surgem, isso pode acontecer em breve. No caso da equipe catalã, os sócios deverão aprovar a entrada na Superliga, algo que não deve acontecer. Já o rival de Madrid vive situação mais constrangedora. Isso porque Florentino Pérez é o grande nome por trás do projeto.
O presidente do Real defende a Superliga com unhas e dentes e não parece estar disposto a ceder tão fácil. No entanto, a pressão é gigantesca. Ontem, dia 20, ele faltou a uma entrevista que daria no programa espanhol El Larguero por conta de uma reunião de emergência marcada no mesmo horário para tratar da Superliga. Anteriormente, em outra entrevista, Florentino havia se mostrado confiante com a continuidade do projeto:
“Se temos medo que alguns clubes abandonem o barco? Não. A situação é tão grave que todos estão de acordo em levar a cabo este projeto e buscar uma solução” – Florentino Pérez, presidente do Real Madrid
Contudo, diante do atual cenário, já é possível afirmar categoricamente que o torneio foi dizimado. Em cerca de 48 horas, o anúncio da Superliga se transformou em fracasso, para alegria de fãs e até de jogadores. É o caso de Gerard Piqué, zagueiro do Barcelona, que fez um tweet afirmando que “o futebol, mais do que nunca, pertence aos torcedores”. Não foi só ele. É imensa a quantidade de atletas, até dos próprios times envolvidos, que se mostrou contra o projeto.
Futuro incerto
Dessa forma, a Superliga Europeia parece acabada. Não é possível ter certeza ainda, pois algumas equipes mantém o discurso de que o projeto ainda pode acontecer. Para isso, haveria algum tipo de reformulação. Mas, para nós torcedores, não deixa de parecer apenas palavras ao vento. Os poderosos clubes europeus quiseram “checar” o poder que tinham diante da UEFA e ligas europeias. Não só fracassaram, como todo o processo desencadeou consequências inimagináveis.
Além do iminente término (melancólico) da Superliga, estamos diante de dirigentes pressionados, uma renúncia e uma completa comoção mundial – de patrocinadores, torcedores, ex-jogadores. Por enquanto, a Champions League vive, e a Superliga sente o gosto de seu fracasso – se tivermos sorte, para sempre. Dessa vez, a cartolagem do futebol foi longe demais.