O brilho das estrelas e o crescimento dos coadjuvantes: a vitória do PSG

Na decisão da Champions League 2019/20, o Paris Saint-Germain enfrentou o Bayern de Munique com uma estratégia clara e compreensível. A intenção era recuar e explorar o melhor caminho dado pelo adversário, o espaço em sua última linha de defesa. O problema é que seus principais jogadores não estavam inspirados, os coadjuvantes pouco puderam fazer e Manuel Neuer cresceu. Desta vez, pelas quartas de 20/21, aconteceu justamente o contrário.

Os principais jogadores estavam inspirados, os coadjuvantes tiveram ótima participação e Manuel Neuer falhou. Tudo começou com um simbolismo do que viria a definir a partida, logo aos 2 minutos: Neymar recuperando a bola no meio-campo e, junto com Kylian Mbappé, atacando o espaço deixado por uma instável marcação dos bávaros. Tudo voltou a ocorrer depois: a dedicação do brasileiro, sua visão diferenciada e o poder de decisão do francês. 

Cada um elevou o nível de uma forma diferente. O camisa 10 basicamente reprogramou o seu cérebro para lidar com um cenário totalmente distinto do que está acostumado a vivenciar. Se normalmente seu time é dominante e ele aparece incontáveis vezes para tentar superar o adversário no talento, aqui a situação previa a superioridade na posse para os alemães e, no geral, poucas oportunidades para mostrar o seu melhor.

Era uma questão de eficiência; fazer mais com menos. E a missão foi bem sucedida. Soube tomar decisões inteligentes e com isso, além de ter participado diretamente de dois gols (e fazer uma movimentação crucial pra mais um), conseguiu aliviar um pouco os efeitos da ausência de Marco Verratti e Leandro Paredes. Ele não tinha a melhor dupla de meias para dialogar, o que exigiu ainda mais efetividade e consciência. Acertou no timing – o momento de tocar pro lado, de driblar, de fazer um lançamento incisivo – e deixou excelentes impressões.

Já o camisa 7 tocou ainda menos na bola, mas fez o mais importante: balançou as redes. Em uma decisão acertada de Mauricio Pochettino, Mbappé começou como o atacante ‘centralizado’, mas com liberdade para flutuar e sem a obrigatoriedade de guardar posição. Com isso, suas características que dispensam comentários foram ainda mais letais. Considerando sua movimentação constante, a defesa não conseguia definir com firmeza alguém pra dar o bote/fazer a cobertura e, no fim, todos sofreram juntos diante de um jogador histórico.

Com apenas 22 anos, Kylian chegou ao seu 13º gol em mata-mata de Champions, participando de 42 gols em 43 aparições no torneio, demonstrando o porquê de ser tão temido pelos oponentes. Esse é um importante ponto de comparação com a final passada, também, já que na época ele estava no meio de uma fase inconsistente e marcada por erros na definição das jogadas. Neste ano, porém, cresceu bastante e está muito mais preciso na hora H. Como podemos ver.

Outras figuras decisivas na partida são do seleto grupo das referências do clube – para entendermos como realmente os que cresceram foram os que mais têm capacidade -, especificamente Marquinhos e Keylor Navas. O brasileiro, que foi pauta por aqui na última semana, fazia mais uma de suas performances grandiosas, com direito a gol, quando foi substituído por lesão.

Por sua vez, o costarriquenho já está consolidado como um dos melhores goleiros do mundo há algumas temporadas e seu status não para de subir. Defendeu com excelência (o Bayern deu 31 chutes, sendo 12 no alvo!) e, quando o capitão saiu, assumiu uma postura ainda mais agressiva e de liderança, sendo dominante na área na maioria dos lances e uma fonte de segurança e organização para os companheiros. Se um dia os parisienses tiveram problemas debaixo da meta, os torcedores já nem lembram mais.

Crucialmente, esses foram os pilares de uma vitória conquistada com muito esforço coletivo, contando com atuações sólidas (algumas até surpreendentes) de peças menos ‘chamativas’. Colin Dagba, de apenas 22 anos, começou um jogo de mata-mata de Champions pela primeira vez e deu conta do recado, sendo aprovado no difícil teste de marcar Kingsley Coman. No segundo tempo, ainda teve que lidar com as subidas de Alphonso Davies e não se acuou.

Idrissa Gueye e Danilo Pereira, os meias reservas que a princípio não estavam passando muita confiança, entregaram tudo e mais um pouco e ajudaram a afastar o perigo em vários ataques promissores do Bayern. O português merece um destaque especial, visto que foi para a zaga quando Marquinhos saiu e fez intervenções bem importantes. Angel Di Maria não teve o brilho de Neymar e Mbappé, mas foi fundamental na construção do primeiro gol e deu a assistência para o terceiro. 

No fim das contas, o PSG volta da Alemanha com uma boa vantagem, o aumento da confiança das suas estrelas e uma segurança maior com jogadores que vinham deixando dúvidas. A receita usada para a vitória na quarta-feira foi a mesma que tentaram aplicar na final em Lisboa, mas o futebol é feito de detalhes. E os detalhes estiveram a favor dos comandados de Mauricio Pochettino.