Itália vence e larga bem nas Eliminatórias da Copa

Com dois gols no 1ª tempo, a Itália fez a lição de casa diante da Irlanda do Norte, venceu e largou bem nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022. De quebra, a seleção manteve viva a sequência incrível de 23 partidas sem perder. Os gols do triunfo desta quinta-feira (25) foram marcados por Domenico Berardi e Ciro Immobile.

A vitória por 2 a 0 no Estádio Ennio Tardini, em Parma, colocou a Squadra Azzurra na segunda colocação do Grupo C. Isso porque a Suíça bateu a Bulgária por 3 a 1 e garantiu a liderança por conta dos gols marcados. A Lituânia, que completa a chave, não atuou nessa rodada.

Equipe intensa!

Roberto Mancini levou a campo seu já tradicional 4-3-3, com Donnarumma no gol; Florenzi, Bonucci, Chiellini e Emerson Palmieri na primeira linha; Pellegrini, Locatelli e Verrati no meio de campo; Berardi, Insigne e Immobile no ataque. Como o número máximo de jogadores no banco de reservas é de 12, o ítalo-brasileiro Rafael Tolói acabou ficando de fora dessa partida. Ele assistiu o duelo das arquibancadas.

O início de jogo da Itália foi forte. Sempre buscando passes mais verticais, a equipe soube aproveitar os espaços e a má leitura da linha defensiva da Irlanda do Norte. Com isso, foram muitos os passes longos que chegaram ao objetivo final. Logo aos 10 minutos, Florenzi fez um lindo lançamento para Immobile, que perdeu o gol. Minutos depois, aos 15, Berardi não cometeu o mesmo equívoco.

Novamente um passe do lateral Florenzi, que encontrou o camisa 11 da Itália sozinho pela direita. O atacante do Sassuolo carregou a bola, ajeitou o corpo e bateu forte de canhota para abrir o placar. Berardi chegou ao terceiro jogo seguido pela seleção balançando as redes.

E essa foi a tônica dos comandados de Roberto Mancini nos primeiros 45 minutos. Um time que toca bastante a bola no campo de defesa e entre os volantes, e que de repente acelera o jogo. Aí, bastam poucos passes para que as chances de perigo sejam criadas.

O segundo gol da Azzura foi construído de maneira parecida. Escapada em velocidade após um escanteio para a Irlanda do Norte. Insigne recebeu, encontrou Immobile livre e o centroavante deu mais dois toques na bola antes de arrematar. O goleiro adversário cedeu o canto direito e acabou pagando caro por isso. Esse foi o 11º gol do atacante da Lazio pelo selecionado nacional. Sete deles, inclusive, marcados em jogos da Itália nas Eliminátiorias de Copa. Já Insigne chegou a sua terceira assistências nos últimos cinco gols da seleção.

Com uma boa estratégia inicial, e noite inspirada de suas estrelas, a Azzurra construiu a vantagem de 2 a 0 com apenas meia hora de jogo.

Jogo acelerado

É errado dizer que o jogo da Itália diante da Irlanda do Norte se resumiu às ligações diretas para o ataque. A verdade é que a equipe de Roberto Mancini trocou 417 passes no 1º tempo contra 161 do adversário. Sim, a maioria deles é lateral e entre a defesa e o meio-campo. O que mostra como a seleção italiana foi paciente em esperar o momento certo de imprimir velocidade.

Quando a brecha surgia, o time arriscava um passe mais profundo, seja pelo chão ou pelo alto. Impressiona a velocidade com que a jogada se concluía após este primeiro passe mais vertical. Muito rápido! Uma dinâmica que exige ótima sincronia de movimentos. Na 1ª etapa, a Itália mostrou exatamente isso.

Chutou mais a gol (8 a 2 no total e 5 a 0 no alvo) e dominou a posse da bola, como já era esperado (65% a 35%). Donnarumma praticamente não apareceu, e a Irlanda do Norte só conseguiu se estabelecer no ataque através das cobranças de escanteio. Com a bola rolando, muito dificuldade para a seleção do Reino Unido, que esbarrou na experiente dupla de zaga italiana: Chiellini e Bonucci.

O segundo, que inclusive completou a marca de 100 jogos pela equipe nacional diante da Irlanda do Norte. Ele é apenas o oitavo jogador a conquistar tal feito na história do país.

Equilíbrio entre os setores

A Itália mostrou um plano de jogo bastante disciplinado. As linhas trabalharam sempre em harmonia, seja com ou sem a bola. Quando a Irlanda do Norte teve seus poucos momentos de domínio no meio de campo, a Azzurra recuava bastante. Berardi e Insigne compunham a linha de meio formando um 4-5-1. Dessa forma, quando a bola era recuperada, havia mais campo para explorar o contra-atque.

Nada mais que uma armadilha. Os adversários acabavam avançando demais e deixando a retaguarda desprotegida, como aconteceu no segundo gol. Ao mesmo tempo, se a Irlanda do Norte tinha a posse próxima à própria meta, a Itália efetuava a marcação pressão com boa sintonia.

De fato, um time que se mostra ser bem treinado e que tem noção a todo instante da estratégia em campo.

Nas laterais, Florenzi e Emerson Palmieri se equilibraram bem. O primeiro se mantém mais atrás, pronto para encontrar os companheiros no passe longo (como fez bem em duas oportunidades). Já o ítalo-brasileiro avança mais pelo setor esquerdo, ao ponto de até aparecer na área, às vezes, para finalizar. Sua passagem pela constante pela ala permite ao ponta por ali (Insigne) fechar pelo centro, buscando os espaços para uma assistência ou finalização com a perna direita.

Ou seja, uma engrenagem muito bem montada por Mancini e bem executada pelo time. Os movimentos estão coordenados e a ideia de jogo está esclarecida na cabeça dos atletas. Eu sei que a Suíça faz parte do mesmo grupo da Itália nas Eliminatórias para a Copa. Mas podemos dizer que, ao menos no jogo de hoje, a seleção da Bota se comportou como um legítimo relógio suíço.

É preciso segurar a onda…

Na 2ª etapa, a Itália caiu de produção. Finalizou menos (apesar de ter tido chances de marcar o terceiro) e ainda deixou a Irlanda do Norte assustar. A equipe visitante quase anotou dois gols dentro dos 15 minutos iniciais. O goleiro Donnarumma foi essencial para manter o zero no placar: primeiro afastando uma bola mal recuada e depois com ótima defesa.

Um pouco desligada, a equipe italiana se permitiu ser desarmada no campo de defesa e encurralada pela marcação da Irlanda do Norte. Um certo desleixo devido ao placar já construído. E aí não é dar uma desculpa ou “passar pano”, como o pessoal gosta de dizer. O time relaxou, sim. E tem seus motivos para tal.

São três jogos em seis dias. A equipe ainda enfrenta Bulgária e Lituânia. A tendência é que tenham modificações no time, mas não tem porque manter o mesmo nível de intensidade. É, inclusive, impossível. Pandemia, jogadores cansados pelo calendário inxuto, placar de 2 a 0… tudo isso permitiu aos comandados de Roberto Mancini desacelerarem o jogo.

Talvez o treinador pudesse ter mexido antes. Fez duas alterações aos 30 da segunda etapa, somente, com as entradas de Chiesa e Spinazzola. Depois, ainda mandou Pessina e Grifo ao campo. As mudanças poderiam ter sido realizadas um pouco antes na 2ª etapa, evitando, talvez, uma certa correria desnecessária. No entanto, quem sou eu para questionar Mancini? Com 38 jogadores à disposição, ele e seus auxiliares certamente sabem muito bem o que estão fazendo para extrair o melhor da Itália.

Saldo positivo

“Só 2 a 0 basta?” Eu creio que sim. A Irlanda do Norte pode não ter o nível de uma equipe que a Itália enfrentará em fases avançadas da Copa, por exemplo. Mas também não é um saco de pancadas. Era possível ter marcado mais um golzinho para assegurar a liderança da chave, mas ele acabou não vindo. Sem problemas. O importante para a Itália era largar bem em busca da vaga na Copa do Mundo. Após ficar de fora do Mundial de 2018, talvez existisse uma dúvida (ou receio) quanto ao jogo de estreia.

Fantasmas expurgados e vitória na conta! O triunfo, aliás, foi o 15º seguido de Mancini em casa. Um feito atingido somente por dois treinadores antes dele: Enzo Bearzot e Marcello Lippi. Além dos 23 jogos invicta, a Itália também está sem sofrer gols nos últimos oito. Uma sequência notável. Com relação à rival, a seleção azul chegou ao sétimo triunfo em sete jogos atuando próprio território. A única derrota da Itália para a Irlanda do Norte, inclusive, foi nas Eliminatórias da Copa de 1958, na Suécia.

Já a última derrota, no geral, da Azzurra aconteceu em 2018, frente à Portugal. Falei sobre isso no pré-jogo de Itália e Irlanda do Norte. Lá também tem algumas outras informações interessantes.

Agora, é descansar e pensar na escalação para o próximo compromisso, contra a Bulgária, no dia 28, as 15h45 no horário de Brasília. Provavelmente, veremos mudanças no time e nas alterações ao longo do duelo. Ações necessárias, tanto para que Mancini possa testar seus convocados, assim como para que ninguém fique sobrecarregado fisicamente.

Diante da Irlanda do Norte, a Azzurra mostrou que a boa fase não é sorte. Não é qualquer time que consegue mais de 20 jogos seguidos sem uma derrota sequer. Apostando na disciplina e coletividade, essa seleção tem motivos de sobra para conseguir uma grande campanha nas Eliminatórias. Jogo a jogo, a Itália vai ficando mais próxima de retornar ao seu lugar: a Copa do Mundo.