Tuchel sabe como potencializar Kai Havertz

Kai Havertz, promessa do futebol alemão, chegou ao Chelsea na última janela de verão por cerca de 80 milhões de euros. Muita expectativa em torno do jovem que havia feito ótimas temporadas pelo Bayer Leverkusen, clube pelo qual estreou aos 17 anos de idade. No Chelsea, Havertz já trabalhou com dois treinadores em um curto espaço de tempo. Treinadores diferentes, de países e ideias diferentes, que o utilizaram, também, de formas diferentes.

Havertz é um jogador bastante versátil que se adapta às funções do meio e do ataque, desde que esteja próximo ao gol. Pela equipe alemã, Kai atuou na maior parte do tempo como um meia ofensivo que pisava na área para marcar. Ao todo, são 17 gols e 21 assistências em 78 jogos atuando neste setor.

Por característica e por ser canhoto, pode também atuar pela direita. Não como um winger, não com a necessidade de marcar lateral até o fim, mas como um meia aberto com a liberdade para flutuar, criar e definir. Pelo lado, marcou 16 gols e distribuiu 7 assistências em 32 jogos.

Também pode atuar como falso 9. O alemão é um jogador muito inteligente e tem uma noção de posicionamento acima da média. Dentro da área, Kai é um perigo constante. No Bayer, atuou assim quando Volland esteve lesionado e o treinador contava apenas com Alario. Foram 8 gols e 1 assistência em 9 jogos nesta posição, um pouco antes da sua trajetória pelo Bayer acabar e ele se transferir ao Chelsea.

A INSISTÊNCIA DE LAMPARD NO 433

Apesar dos inúmeros elogios do treinador ao alemão, afirmando inclusive que Kai será um dos principais jogadores do mundo, o inglês não soube utilizá-lo. Lampard insistiu em um 4-3-3 que não “acomodava” Havertz onde ele melhor rende e, principalmente, onde pode entregar gols e assistências. Como ponta, precisava marcar lateral durante os 90 minutos. Willian, transferido ao Arsenal, fazia isso muito bem. Entretanto, convenhamos que ambos são jogadores extremamente diferentes. Resultado: nenhum gol e nenhuma assistência em 5 jogos. Nenhuma boa atuação, aliás.

Como um meia aberto pela direita, Havertz ficava muito longe do gol, sofreu com a velocidade do jogo inglês e a força física no meio campo. Perdia a bola com facilidade e não conseguia se livrar da marcação. Se tornou um jogador pragmático atuando neste setor. Pulisic, outro jovem contratado do futebol alemão, também passou por um período de adaptação parecido. Por mais que seja um jogador extremamente veloz, parecia que o jogo era ainda mais rápido que ele.

Já diria Carlo Ancelotti, em ‘A Árvore de Natal’, “a solução não estava na adaptação (do jogador ao esquema), mas sim na mudança, ou seja, na escolha de um sistema de jogo que se adaptasse aos jogadores que estavam a minha disposição, não ao contrário”.

MELHOR UTILIZADO POR THOMAS TUCHEL

Tuchel chegou e para muitos a contratação do alemão foi justamente para melhor utilizar e aproveitar as duas principais contratações do Chelsea na temporada: Werner e Havertz. Se foi por isso ou não, é inegável que o começo de trabalho rende bons frutos para ambos. Havertz vem sendo utilizado como um jogador que é “entre o camisa 9 e o 10” do time, como já disse o Tuchel, e vem tendo boas atuações.

Como meia ofensivo com a camisa do Chelsea, sendo treinado por Lampard e Tuchel, soma 4 gols e 5 assistências em 14 jogos.

Contra o Everton, Havertz foi escalado como o único meia de um 3-4-1-2. Ele era esse “1”. No entanto, Kai por vários momentos era quem infiltrava, pisava na área e recebia a bola mais próximo do gol, com Werner e Hudson-Odoi correndo pelos lados. Marcou um belo gol anulado e sofreu o pênalti que garantiu a vitória do Chelsea. Participou de todas as ações ofensivas.

Dois dribles completos (100%), 53 toques na bola, 5 toques dentro da área, 2 finalizações e 2 duelos aéreos vencidos. Apesar de Kai ter um tipo físico mais magro, sabe se posicionar dentro da área e, pela sua altura, vencer os zagueiros adversários e levar perigo. Pelo Chelsea, já marcou gol de cabeça.

Pelo retrospecto do alemão no Bayer e seus números no Chelsea, parece bastante evidente em quais posições e com quais funções Kai Havertz rende melhor. É um jogador de características raras e dono de um talento geracional que, se for bem aproveitado, pode marcar época dentro da Premier League.