Vitória contra o Everton mostra que Thomas Tuchel tem o elenco do Chelsea nas mãos

Chegar a um time de futebol e conseguir uma sequência de onze partidas sem perder é uma tarefa difícil, ainda mais quando aparecem adversários como o Tottenham de José Mourinho, o Atlético de Diego Simeone, o Liverpool de Jürgen Klopp e o Manchester United de Ole Solskjær. Mesmo assim, essa sequência poderia ser justificada com um time inicial forte e um esquema de jogo bem estabelecido. Mas Tuchel foi além.

Thomas Tuchel chegou ao Chelsea no final de janeiro, e com pouco mais de um mês, e já conseguiu mostrar que é um treinador competente, que não depende de dois ou três jogadores, ou de uma estratégia fundamental para seu jogo funcionar. O bom trabalho começou a aparecer desde a primeira partida, mas ficou claro depois da última vitória, contra o Everton.

O Chelsea não é refém de um esquema tático

Desde o início, algo que chamou a atenção no trabalho de Tuchel foi escolher um esquema com três zagueiros. A estreia do treinador foi contra o Wolverhampton no dia 27 de janeiro, apenas um dia depois de seu anúncio, e, com apenas uma sessão de treinamento, decidiu que iria deixar de adotar o 4-3-3 de Frank Lampard para usar um 3-4-3 em sua primeira partida.

A escolha de Callum Hudson-Odoi pela ala direita foi a decisão mais surpreendente dentre os titulares. O jovem nunca havia atuado dessa forma com a camisa do Chelsea, mas respondeu com uma atuação consistente nas fases defensivas e ofensivas. Um acerto que voltou a aparecer nas escalações do treinador.

Apesar do esquema com três zagueiros ter se mantido em todas as partidas do alemão no comando dos Blues, ficou claro que o time não é engessado, a forma de jogar está longe de ser igual em todos os jogos, e algumas mudanças demonstram um preparo do treinador para cada confronto, com mudanças que “fazem muito sentido” para enfrentar cada adversário.

Trocar o 9 pelo 11 muda alguma coisa?

Usando como exemplo as vitórias contra Atlético de Madrid e Liverpool, é possível entender como mudanças pontuais podem afetar na maneira como o time ataca estrategicamente alguns pontos mais delicados dos adversários.

Para enfrentar o time de Simeone pela Champions League, Tuchel entrou com um 3-4-1-2:

  • Mendy; Azpilicueta, Christensen, Rüdiger; Hudson-Odoi, Jorginho, Kovacic, Alonso; Mount; Werner, Giroud.

Contra os ingleses comandados por Klopp, a formação variou para um 3-4-2-1:

  • Mendy; Azpilicueta, Christensen, Rüdiger; James, Kanté, Jorginho, Chilwell; Ziyech, Mount; Werner.

Os esquemas táticos parecem os mesmos, mas não são. Contra o Atlético, Mount foi o único meia ofensivo e tinha o objetivo de alimentar o Werner, que flutuava por todo o setor ofensivo, e o Giroud, um atacante mais posicional que oferecia um trabalho de pivô e ameaça aérea para a defesa dos espanhóis.

Contra o Liverpool, Mount e Ziyech eram os meias ofensivos, enquanto Timo Werner era o único atacante do esquema, dando mais opções de profundidade e jogadas em velocidade para atacar a defesa vermelha.

Essa mudança na configuração do ataque ficou clara para quem assistiu às duas partidas. O Atleti montou praticamente uma linha de 6 defensores, com três meias e o Luis Suárez isolado na frente. Os Blues precisavam de um jogo de paciência, rodando a bola – sem poder errar – até encontrar um raro espaço para tentar marcar – o Chelsea teve 64% da posse de bola.

Olivier Giroud se mostrou importante para afundar os zagueiros adversários e buscar oferecer tabelas, soltando rapidamente a bola e fazendo o jogo girar. Além disso, a presença de um centroavante mais fixo na área se mostrou fundamental no lance do gol, uma bola mal espirrada pelo zagueiro que caiu na área, e o francês, que estava no lugar certo na hora certa, conseguiu conferir com um golaço de bicicleta.

Já para a partida contra o Liverpool, Tuchel esperava mais equilíbrio, com as duas equipes buscando atacar mais – nessa partida, o Chelsea teve 46% da posse de bola. Isso se justificou pelas escolhas de Kanté no lugar de Kovacic, Reece James no lugar do Hudson-Odoi e Chilwell no lugar do Alonso, todos estes com mais qualidades e preocupações defensivas. Porém, a principal mudança tática foi a entrada de Hakim Ziyech no lugar do Giroud, fazendo com que o Werner funcionasse mais como centroavante.

O Liverpool subia muito mais as linhas se comparado ao Atleti, por isso, Tuchel escolheu um atacante com mais mobilidade, para atacar os espaços vazios em velocidade. No início do primeiro tempo, Werner recebeu um lançamento do Jorginho e usou sua velocidade para chegar antes do Alisson e marcar o gol, que foi anulado pelo VAR. É impossível imaginar que Giroud conseguiria marcar nessa mesma jogada, é um atacante mais alto, mais forte e com muito menos velocidade.

A mudança de estratégia foi novamente coroada com o gol da vitória. Mason Mount que deixou de ser um meia central para atacar principalmente pelo lado esquerdo – Ziyech ocupava mais o lado direito – recebeu por ali um ótimo lançamento de Kanté (mais uma vez nas costas da linha alta do Liverpool) e decidiu para os Blues.

A vitória contra o Everton mostrou a união do elenco

A décima primeira partida de Thomas Tuchel no comando do Chelsea aconteceu em um contexto difícil. Os últimos três adversários dos Blues haviam sido Atleti, Manchester United e Liverpool, uma sequência dura que exigiu demais dos jogadores física e mentalmente. Por isso, o treinador precisou fazer cinco mudanças no time que havia superado os Reds.

Meias importantes como Kanté e Mason Mount ganharam um descanso, e Kai Havertz seria a grande surpresa da escalação. O alemão sofreu com a Covid seguida por uma lesão, que o tirou dos gramados por um tempo considerável. A adaptação do jogador à Premier League é lenta e ele ainda não havia feito um grande jogo pela competição.

Nada disso foi problema para o Chelsea. Os comandados de Thomas Tuchel conseguiram entregar mais uma performance coletiva admirável, fechando os espaços do ataque adversário e criando boas chances para vencer e somar mais três pontos na competição.

Um ataque que ainda não havia jogado junto se mostrou entrosado e criou muitas oportunidades. Deve ser levado em consideração que Havertz, Werner e Hudson-Odoi ocuparam espaços diferentes no decorrer da partida. Foi um trio bem móvel que soube se deslocar de maneira inteligente, juntos pela primeira vez.

Outro ponto a se considerar é a forma defensiva do Chelsea, que conseguiu mais um clean sheet. Das onze partidas sob o comando de Thomas Tuchel, os Blues não sofreram gols em nove deles. Além disso, Thiago Silva, que vinha sendo o principal destaque da retaguarda azul na temporada, esteve lesionado e não participou dos oito últimos jogos. Destaques para Azpilicueta, que sempre entrega bons jogos, mas principalmente para a dupla Christensen e Rüdiger, que cresceram de produção. Além dos zagueiros Jorginho, Kovacic e Marcos Alonso também passaram a jogar muito bem com o treinador alemão.

Defendemo-nos com muita luta e intensidade. Defender é um esforço coletivo, é sobre ajudar uns aos outros. Fizemos isso e merecemos nosso clean sheet, é muito gratificante.” – Thomas Tuchel

O elenco se provou unido porque, mesmo com várias mudanças, entregaram um bom jogo, e não importa quem entra e quem sai, todos parecem entender bem as instruções e seus papéis dentro de campo.